Você não está produzindo para evoluir. Nem para criar um legado. Muito menos para se expressar.
Você está produzindo porque não suporta a ideia de simplesmente existir.
Vivemos tempos onde o criador de conteúdo se tornou o mais vulnerável dos operários, escravo de um ritmo autoimposto.
Uma engrenagem que se alimenta de si mesma, girando até triturar a alma que deveria ser sua fonte de criação.
A produtividade virou o novo vício legitimado. Ela se disfarça de virtude, mas é fuga.
É o novo opioide social, mas com a medalha de honra: "Parabéns, você é produtivo."
Só que ninguém diz: "Parabéns, você está fugindo."
Você cria, você posta, você produz…
Mas quando o dia termina, no raro silêncio entre um conteúdo e outro, o que resta?
Um cansaço estrutural que não se resolve com sono.
Uma ansiedade de quem sabe que amanhã terá que criar de novo, e de novo, ou desaparecer.
Criar, hoje, deixou de ser uma prática espiritual, estética ou política.
Criar se tornou um ato de sobrevivência psíquica.
O criador de conteúdo não está mais preocupado com a expressão autêntica, mas com o próximo post, o próximo like, o próximo vídeo que o faça sentir que está, de alguma forma, vivo.
Só que não está.
Está apenas ativo.
Atividade não é vitalidade.
Produtividade não é presença.
Esse ciclo tóxico da produtividade é, no fundo, um pacto silencioso com a negação da morte.
Enquanto você produz, não precisa parar.
E se não para, não precisa olhar para o vazio que pulsa atrás de cada tarefa finalizada.
O criador contemporâneo é o homem que corre para não ser alcançado por sua própria finitude.
A cada postagem, acredita ter avançado.
Mas na verdade, apenas adiou o confronto inevitável: o que sobra de mim quando não estou produzindo?
Se você parar agora, quem é você?
Se a sua resposta é o silêncio, parabéns: você acabou de encontrar sua dor mais real.
E agora, a pergunta que você precisa fazer, não para mim, não para seus seguidores, mas para si mesmo:
Eu estou criando…
Ou só estou evitando colapsar?
Se quiser continuar fugindo, poste mais uma vez.
Se quiser começar a existir, talvez seja a hora de parar.
E olhar, pela primeira vez, para o que está atrás dessa produtividade que você chama de vida.
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