domingo, 18 de maio de 2025

Quem é você na fila do pão?

A pergunta parece piada de bar, dessas que a gente solta rindo, meio cínico, pra cortar o peso da existência.

Mas não se engane.

Essa pergunta “Quem é você na fila do pão? ” -  é uma armadilha filosófica disfarçada de deboche.

Porque ela escancara, num tom banal, a tragédia que fingimos não ver: ninguém sabe exatamente quem é.

 

Estamos todos ali, lado a lado, em filas invisíveis.
Uns esperando um elogio.
Outros, um amor que nunca chegou.
Alguns por um sinal divino.


Outros só querem sobreviver mais um dia sem desmoronar.

Na fila do pão, a máscara cai.
A moça que sorri no Instagram está de olhos fundos.
O homem engravatado olha para o chão como quem pede desculpas ao universo.


E você…

Você se pergunta, com um nó na garganta: 

 

“O que eu vim buscar aqui mesmo? ”

 

A verdade é que somos filhos de uma era que trocou o pão pelo aplauso.
Que esqueceu o cheiro da massa no forno e preferiu o perfume da performance. Que tem fome, mas não sabe do quê.

 

Sartre dizia que estamos condenados à liberdade, o que, traduzido, significa: Você é o único responsável pelo que escolhe ser.


Mas como escolher, se a maioria sequer ousa olhar pra dentro?

Vivem como sombras projetadas por um mundo que não respeita alma.
E aí a visão interior, rasa, fragmentada, negligenciada, constrói um mundo à sua imagem: superficial, brutal, entorpecido.

 

Você vê guerra?

É porque a guerra já começou dentro.
Você vê caos?

É porque você nunca arrumou seus cômodos psíquicos.
Você vê beleza?

Talvez, só talvez, tenha encontrado a fresta por onde Deus ainda sussurra.

 

“Quem é você na fila do pão?”


Você é o que olha impaciente pro relógio?
O que dá lugar com gentileza e segue vazio por dentro?
Ou o que segura o pão quente com as duas mãos e chora porque, por um segundo, lembrou-se da infância, do amor, de algo que não sabia que ainda existia?

 

Existir é duro.
É carregar perguntas como pedras no bolso.
É caminhar sem mapa, sem garantias, sem o tal pão às vezes.

 

Mas também é parar no meio da fila, respirar fundo, e entender que não importa o que os outros vejam

 
Se a sua visão interior for verdadeira, o mundo lá fora não te engole.


Porque quem sabe quem é, não precisa ser visto.
Precisa apenas estar inteiro.

Na fila, na vida, no abismo, inteiro.

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