terça-feira, 19 de setembro de 2017

Prysila. A Rainha Do Deserto

Solta, frígida. As vezes brilhante como uma estrela cadente, mas na maioria das vezes, insossa. Só, abandonada por si mesma. Me encontrava ali, eu, mulher, pequena, livre. Talvez pensando mais uma vez na tão sonhada existência do meu ser. Mas eu estava ali. Mulher, largada, abraçada pelo acaso, destino, uma escolha. Inconsciente,  mas uma escolha. Ele me apareceu como uma luz ao fim do túnel. Uma redenção, um salvador. Meu super herói da sessão da tarde. Acendia mais uma vez a chama do calabouço do meu ser. Suas palavras soavam como música clássica aos meus ouvidos.
__ Ok Honey!
Eu dizia, finalizando suas conclusões sobre mim. Sobre nós!
Toda vez que meu telefone tocava. Eu sentia dores de barriga. Já havia acontecido outras vezes. E aconteceria novamente. Multiplas vezes. Mas eu estava ali. Pronta. Apaixonada! Mais uma vez. Urg! :/
Tudo a minha volta eram ruínas. Ruínas do meu ser. Restos de trapo imundo que deixei escorrer pelas lentes da minha alma. Talvez essa seria a minha saga. Minha história. Uma mulher vazia. Louca! Perdida. Eu sinto a vida escorrer pelos meus dedos a cada paixão louca como esta. Sinto-me desgastada pelo tempo. Sou uma personagem de mim mesma. Um avatar! Cada dia que acordo, pago pelos meus pegados. Pelas minhas escolhas. Mas sinto-me alegre. 'Festejante'. Alegro-me pelo momento. Cada homem, cada ser, cada figura, cada espaço que me encontro e me acomodo. Sou artista de cinema, figurante na vida ingrata dos outros. Dos meus homens, dos meus amados, maridos; amantes. Uma lancha, um carro, uma motocicleta...
Um corpo físico que acomode meu pobre espírito!
Um copo de cerveja, uma amiga. Um maço de cigarro! Uma nova atmosfera.
Cada um tem seu lugar no meu vazio existencial. No buraco negro da minha galáxia.
Eu sou a rainha do meu deserto. Sucumbindo à vida!
Uma velha em corpo de jovem, largada ao léu. Domada por qualquer um. Por qualquer um que me dê acalento, um espaço, uma vida pra ser vivida.
Um amor pra dizer que é meu. Vagabundo, transviado. Eloquente. Em voga. Um gigante pra que eu me esconda em sua sombra. Um pai pra aquilo que chamo de filho. Minha esperança! Meu tudo, e meu nada. Nada tenho além dele. Sim! Ele. Fruto do acaso. Resto do descaso. Que o grande pai me perdoe. Mas se não fosse esse fiasco de esperança, que escorreu do meu ventre, nem viva eu estaria. Eu, pobre mulher!
Brindo a vida porque só tenho ela. Mas ninguém. Quando as cortinas se fecharem, estarei só. Como sempre fui. Persona fúnebre de uma peça de teatro mau acabada.
Mas prossigo enfim. A sombra de mais uma vida, que escapando de si mesma, me encontrou. Me salvou, me levou contigo. Nos salvamos mais uma vez. Mais uma vez. Um príncipe, um protagonista pra minha repetitiva história.
Se a vida é feita de ciclos, a minha é como um looping eterno. Girando sempre em volta do próprio eixo, mudando apenas os personagens, os lugares, as circunstâncias. Mas sempre repetindo os mesmos erros.
"Eu sou dona do meu reinado"
Eu sou livre dos outros, e escrava de mim mesma.
Eu sou Prysila, a Rainha Do Meu Próprio Deserto.

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Penélope, e sua ingrata liberdade

Jovem. Antes dos quinze anos, ela já estava apaixonada. Amor platônico. Isso a gente nunca sabe quando acontece. Mas acontece. E ela deixou que isso acontecesse periodicamente. Durante a sua vida inteira. Era seu sustento.
O poder de ir e vir sem precisar dar explicações, e sem dar satisfação a ninguém, era fantástico, a dominava.
Ser e estar com quem for era maravilhoso. Isso não tem, e nunca teve importância pra ela. A síndrome de Ovelha Negra da família a perseguia. Porém, era o fardo de Maçã Podre na caixa que a atormentava. Sem saber.
'Pra quem não sabe pra onde vai, qualquer caminho serve'. Assim seguia, a pobre menina mulher.
Uma paixão; um mundo novo. E a absorção de tudo que lhe era apresentado. Assumia qualquer papel, qualquer personagem. Fácil.
O que era belo, suscetível, favorável, ela abraçava. Vivia o momento. E só.
Por não ter nada, ela sempre teve tudo. Entrava e saía de qualquer mundo como ninguém. Imperceptível! Invisível a si mesma. Pobre garota, mulher.
Como uma onda que quebra sempre no mesmo lugar, mas que nunca é a mesma, ela sabia exatamente até aonde pudia chegar. Ou não, as vezes. Já que limites, ela os mesmo traçava.
Penélope é uma mulher! E a liberdade sua paixão. Mas não sabe o que fazer da vida. Mas faz o que não sabe com perfeição.
Ela não sabe quem é. Louca, sã. Desvairada.
Ela não tem nada. Ela não é ninguém. É apenas a Penélope. E pronto, ou, ponto.
Penélope é livre. Livre pro mundo. Mas escrava de si mesma. De seus atos,de suas escolhas.
O vazio que lhe consome, preenche o mundo a sua volta. Ela é cega, surda e muda. Mas sabe pra onde vai, o que ouve, e o que fala. Por sustento. Pro sustento. Mas não assimila nada.
Apenas, caminha.
Pra nós. Um ensaio, um ensinamento. Uma novela, um personagem. Assistimos, e sabemos justamente o caminho que ela persegue. O mesmo, sempre. Repetindo, e repetindo.
Penélope, e sua ingrata liberdade.