Há livros que nos acompanham como reflexos da nossa alma. Caninos Brancos, de Jack London, não foi apenas uma leitura — foi um espelho, uma travessia, um reencontro com a essência que, muitas vezes, o mundo moderno nos força a esquecer.
A jornada do lobo mestiço entre a brutalidade da natureza selvagem e a dureza do convívio humano ecoou dentro de mim como um grito antigo: a luta pela sobrevivência que esconde, no fundo, uma busca por pertencimento e amor. Me identifiquei profundamente com essa dualidade: o instinto que nos protege, mas que também nos isola; a força que constrói muralhas, mas que secretamente deseja pontes.
Ler Caninos Brancos foi como reviver o meu próprio percurso. Em tempos de solidão ou conflito interior, reconheci nele minha resistência, meu silêncio, meu espírito arredio — e, ao final, minha abertura para o afeto, quando este é verdadeiro e livre de dominação. London escreve com a alma crua da Terra, e é exatamente essa honestidade visceral que me toca. Ele não idealiza a natureza, tampouco o homem. Mostra ambos em sua luz e sombra, e nos convida a olhar para dentro com a mesma coragem.
Esse livro me ensinou que domar não é subjugar, mas aprender a confiar. Que a essência — selvagem, livre, indomável — não precisa ser apagada para que possamos amar ou ser amados. Ela só precisa ser reconhecida.
Caninos Brancos não fala apenas de um lobo. Fala de mim. E talvez, se você olhar com atenção, fale também de você.
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