Há um padrão sutil — quase invisível — que rege a maioria das vidas: o desespero em parecer são, quando por dentro tudo grita por socorro. Chamam isso de rotina, de estilo de vida, de metas. Mas é só fuga.
O modus operandi do humano moderno não é viver — é administrar o incômodo. E faz isso com maestria: redes sociais, espiritualidade pop, produtividade tóxica, relações descartáveis, promessas de autocura em três passos. Cada um desses elementos funciona como uma morfina para a alma — suaviza, mas nunca cura.
Fugimos de nós mesmos com a elegância de quem acredita estar evoluindo. Mas não se trata de evolução; é só um esconderijo mais sofisticado. Ninguém quer encarar o vazio que pulsa no peito quando todas as luzes se apagam. Então inventam mantras, inventam trabalho, inventam paixões. Criam personagens mais digeríveis, mais palatáveis ao olhar alheio.
Por trás disso está o pavor do encontro. Do confronto. Porque se olhássemos fundo no espelho da consciência, veríamos não um monstro, mas algo pior: um desconhecido. E esse é o verdadeiro terror — admitir que vivemos décadas sem jamais termos sido de verdade.
A verdade é que autoconhecimento dói. E dói porque exige que a gente desmonte o que construiu para sobreviver. Exige silêncio, exige perda, exige encarar memórias não resolvidas, afetos sufocados, crenças herdadas que nunca questionamos. Mas quem tem tempo para isso numa era que vende a paz como um produto de consumo rápido?
Anestesiamos a realidade porque não suportamos o peso da lucidez. Mas sem lucidez não há liberdade, só distração. E assim seguimos, com passos bonitos e direções vazias.
Modus operandi: viver como se estivesse desperto, enquanto dorme profundamente de si mesmo.
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