"Nesse exato momento em que escrevo estou deitado no meu quarto com a imagem da Lua gigantesca entrando pela janela.
Lua Cheia. São incontáveis as vezes que a percebo junto a minha existência. Parece que a cada pausa que faço nessa escrita e a contemplo, ela cresce, ela invade meu ser.
Sou um privilegiado.
Desde nascença, todos os lugares em que Deus quis que eu estivesse acomodado em um lar e o pudesse chamar de doce, tive a graça de sua presença. Ela aparece nova, cresce, se enche e míngua, assim como toda história, assim como tudo que pulsa, arde, some e retorna.
A Lua é minha antiga vizinha.
Já me viu menino sonhador, rapaz inquieto, homem despedaçado.
Já iluminou minhas perdas e gargalhadas.
Nunca disse uma palavra, mas sempre respondeu tudo.
Nesse momento, descubro que a Lua não é só satélite — é memória.
É o reflexo de algo maior que insiste em nos visitar mesmo quando esquecemos de olhar para o céu.
Ela não se impõe. Apenas está. E por estar, ensina.
Enquanto escrevo, penso que talvez ela seja o último altar que me resta.
Ali, suspensa, a Lua não julga minhas dores, não exige que eu melhore, não me cobra respostas.
Ela apenas derrama sua luz sobre os telhados e diz:
“tudo muda, tudo volta, tudo se transforma”.
E eu fico aqui, quieto.
Pés descalços, coração aberto.
Permitindo que essa luz me lave, me resgate, me desmonte em poesia.
Hoje não quero entender a vida.
Quero apenas senti-la —
Como se fosse possível caber na palma da mão
esse instante em que a Lua me olha
e eu tenho coragem de retribuir.
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