O homem moderno olha para o alto e não vê nada. O céu virou apenas um fundo de tela. A árvore, um obstáculo. O mar, um destino turístico. A chuva, um incômodo. Deus? Uma ideia fora de moda, engavetada com as outras coisas que não cabem nas planilhas.
Há um vazio que cresce, mas não se vê. Um buraco na alma do tempo, feito não da ausência de coisas, mas da ausência de sentido. O homem se afastou do Sagrado — não por maldade, mas por pressa. Deixou de ver a Criação como linguagem e passou a tratá-la como recurso. A montanha virou paisagem. O animal, dado estatístico. A criança, projeto.
Deixamos de ver o invisível no visível. E com isso, fomos perdendo Deus — não o Deus das catedrais, mas o que se revela num pássaro atento, num vento que muda de direção, num grão de café que esquenta as mãos no frio da manhã.
Não se trata de religião. Trata-se de reverência. De saber que o simples não é inferior. De entender que o milagre não precisa gritar — ele sussurra, e por isso exige atenção. Um tipo de atenção que o homem atual já não pratica mais.
Vivemos num estado contínuo de distração, e o que é pior: nos orgulhamos disso. Confundimos velocidade com inteligência, produtividade com valor, excesso com potência. Mas há uma inteligência maior no silêncio de uma folha que cai do que em mil reuniões sobre métricas de sucesso.
A Criação inteira continua ali, dizendo: “olha para mim”. E o homem responde com um scroll.
Perdemos a capacidade de nos maravilhar. E sem o assombro, sem o encantamento pelas pequenas manifestações do divino, ficamos ocos. O mundo vira cenário, e nós, atores exaustos improvisando frases que não acreditamos mais.
Mas às vezes, num raro instante de pausa — quando um cheiro de mato invade a cidade, ou quando uma criança olha pra gente como se visse algo que esquecemos — há um estalo. Um retorno. Uma lembrança: o Sagrado não se foi. Fomos nós que desviamos os olhos.
A atenção plena, então, não é técnica. É humildade. É o gesto de voltar a ver com o coração aberto.
Porque quem vê Deus no simples, nunca está só.
E nunca está vazio.
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