sábado, 19 de agosto de 2017

Voando com as gaivotas


Ontem a noite, antes de dormir, peguei pesado nos meus exercícios físicos, e logo depois, fui tomado por uma euforia exacerbada que me fez ler metade de um livro em frações de minutos. Coisa quase sobre natural pro meu ritmo de leitura.
Quando deitei e dormi. A minha noite pareceu durar apenas alguns minutos, mas tive um sonho estranho. Nele eu estava sentado na cama e conversando com alguém que, eu sabia estar ali me ouvindo, mas não dava um sinal de retorno, mas eu entendia quase que como simultaneamente, que a pessoa me respondia nitidamente de uma forma interna, como que conectada comigo mesmo. No final da conversa, olhei para trás, e dei de cara com o meu próprio corpo deitado atrás de mim. Com um semblante de estar muito calmo. Dormindo, porém, me ouvindo o tempo todo.
Tomei um susto!
Foi quando acordei pela manhã. E eu estava exatamente na mesma posição que o corpo que me ouvia, só que, quando abri os olhos, não consegui me mexer. Meu coração estava extremamente acelerado, minha voz sufocada, e meus olhos queimavam.
Em prantos, mas sem saber o que fazer por estar só, ouvi nitidamente uma voz me dizer por três vezes:

__Respire fundo. Respire fundo! Respire, fundo...

Foi o que fiz. E meu corpo foi relaxando. Mas ainda estava tomado pelo medo e havia um nó na garganta que me deixava um pouco assustado. Parecia uma crise de ansiedade. Não sei!
Quando sai do portão na rua, rumo ao trabalho. Ouvi novamente a mesma voz. Bem alta, e em bom som me dizer:

__ Hoje quero que você sinta a sua existência. Sinta você! Troque seus sentidos e olhe pra tudo a sua volta com os seus sentidos trocados. Ouça com os olhos, sinta com os ouvidos, cheire com as mãos. E veja toda a atmosfera a sua volta com o poder da sua alma e a senilidade do seu espírito.

Aceitei o desafio.
A primeira coisa que fiz foi não ouvir música no caminho até chegar no trabalho, guardei meu celular e evitei falar o dia inteiro, apenas o necessário. Não dormi na hora do almoço, não li nada nas horas vagas, e na hora da minha corrida de final de tarde na praia, fiz diferente. Fui descalço, sem camisa e ao invés de correr no calçadão, corri na areia, a beira mar. Detalhe; estava chovendo no momento, uma leve garoa.
Comecei a sentir que a areia, apesar de muito próximo ao mar, estava mais macia do que de costume. E o mar, com ondas quase que inexistentes. Procurei numa espécie de devaneio, tentar ouvir novamente aquela voz. E derrepente, do nada, ouvi um estrondo como de um trovão vindo do mar. Uma onda quebrou exatamente no nada, só percebi a espuma cobrir os meus pés. E não houve outra.
Como de súbito, olhei ao redor pra ver mesmo de onde havia vindo aquele barulho e notei que em toda a extensão da praia, só havia eu.
Eu, e eu!
Parei de correr e me veio uma vontade imensa de chorar e sorrir ao mesmo tempo. E olhei pra cima, pro céu. Não sei explicar. Mas havia um rio de gaivotas sobrevoando o litoral fazendo justamente o percurso que eu vinha fazendo. Algo surreal, parecia uma pintura, elas não batiam as asas. Apenas voavam! Todas. Como se estivessem conectadas, umas as outras. E eu, a elas. Foi quando abri os braços e deixei o vento que vinha do horizonte confirmar a sensação de que eu estava mesmo voando.

Olha! É sério. Estou longe de conseguir explicar em palavras o que senti naquele momento. E como foi o meu dia.
Fiz o caminho agora de volta pra casa, alimentando aquele sentimento que começou pela manhã. E acredite! Acabei de chegar em casa e encontrar a minha gata Sheetara, sentada sobre a mesa. Num silêncio insurdercedor (ela costuma me receber aos berros) e sem mesmo esboçar um só movimento, me olhar com uma íris negra, tomando todo os seus olhos, como se estivesse me perguntando:

__ E aí? Como foi? Me conta!

Ainda estou em êxtase.

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