segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Lembranças da Gabi


   Não lembro que ano estávamos. Mas lembro exatamente do seu olhar quando chegou.
__ Que susto!
Gritei apavorado quando ela e sua prima abriram a cortina da porta onde eu e mais uma amiga dividiamos alguns pensamentos. Uma amiga também que a alguns dias havia acabado de conhecer e que pela segunda vez me levava a sua casa.
Tínhamos uma promessa comprometedora de ter uma amizade consolidada, mas não fluiu. Coisas do destino. Na verdade, o destino tinha outros planos com a gente.
A Gabi entrou. Seus olhos eram fascinantes, verdes, e eu não tinha mas outra coisa a me concentrar a não ser naqueles olhos. Não durou muito tempo pra a gente se entrosar naquela noite. As trocas de olhares entre as três meninas, mulheres, já deixava claro que a noite seria minha, e da Gabi.
Os drinks já vinham desde de cedo. Quando aquele anjo chegou, eu já estava nos céus. Era apenas, deitar, e sentir a leveza que ela trazia como presente. Mas num rodopio espetacular aquela beldade fez com que tudo virasse ao avesso. Afinal, a noite era exclusivamente dela, e a entreguei ao divã. Foram quase seis horas intermináveis de entrega, ela contava todos os seus traumas, decepções, mágoas, frustrações, e nós bebíamos taças e mais taças de puro ressentimento de nossas histórias de vida. Já estavamos a vontade, carícias, olhares. Eu a pedi um beijo por duas ou três vezes. Ela negou, com um sorriso lindo no rosto. Como quem dizia:
__ Calma menino. Vai rolar.
Mas negou o beijo. Pela manhã, quando as outras companheiras acordaram, nós ainda estávamos ali. Acesos! Elétricos. Em determinado momento sem que ninguém notasse. Ela segurou meu rosto e me deu um 'celinho'. Gostoso, molhadinho. Parece que foi uma forma de agradecer pela noite que tivemos.
Pegamos nosso destino. Iriam ser quase duas horas de viagem. De carro, e ali viajamos, um do lado do outro. Ao contrário de como foi a noite, não trocamos muitas palavras. Apenas um fone de ouvido e os olhares à paisagem. Todas as músicas que rolavam em sua playlist batiam meu gosto musical, e com o momento.
Pegamos uma lancha após o trajeto de carro, e pela segunda vez, estavamos ali, no paraíso. Eu, a Gabi, e os outros. Numa ilha distante do litoral. Aquele final de semana era nosso, mas acho que nem eu, nem ela estávamos preparados e atentos. Não sei. Perece que nossas cabeças ainda estavam em outro lugar.
Tivemos um lual, música, gente bonita, praia a noite. Era tudo nosso Gabi! Nós não percebemos...
Bom, por alguns momentos sim. Percebemos. Fomos caminhar na areia da praia e namorar no Pier. Foi lindo. O horizonte com a lua no fundo, algumas ilhas iluminadas por algum holofote perdido de navio cargueiro. Golfinhos a alguns metros. Nossa cara! Golfinhos. A noite era inegavelmente nossa. Nós namorávamos feito dois adolescentes. Nossos corpos se entrelassavam perfeitamente. Nossas bocas se tocavam infinitamente. Foi continuação de uma escapadela do final de tarde que tivemos pra suíte do hotel onde deixamos nossos corpos se tocarem até o êxtase.
A noite seguiu. Nada mais nos interessava ali. Nem mesmo o fato de estarmos numa ilha a kilometros do caos urbano que aguardava ansioso a nossa volta.
Fomos para o quarto com nossos desejos a flor da pele, a alma gemia, o corpo gritava, foi inevitável, foi, uma transcendência. Depois, pra minha surpresa, recebi de presente após o gozo, o silêncio. Um vácuo, o limbo. Nem uma palavra a mais. Aquela mulher falante de uma noite atrás foi devorada por um buraco negro. E eu, sucumbi. Uma inquietude bizarra tomou conta do meu interior, mas resisti em transparecer. Reinou o respeito. Ela estava sóbria, ciente. Mas não esboçou um suspiro.
Poucas horas depois, quando as trevas da ilha se aproximaram, veio o sono da noite que passamos em claro anteriormente. Deitamos em camas separadas, mas, num subido inesperado, ela deixou o seu leito e acomodou-se ao meu lado.
Estava ali dois corpos semi nus, respirando como um. Não houve palavra, não houve beijos como antes, não houve sexo. Houve carinho, proteção e cuidado. A abracei-a como a muito tempo não havia feito. Eu estava carente, vivendo um recente luto. Dormi com todos os meus desejos infames retraídos, minha preocupação era só o seu descanso. Não olhe tirar o sono. E o único movimento que eu conseguia fazer durante a noite era apenas o de tentar o máximo me encaixar em seu corpo. Ela me deu o que eu precisava naquela noite. O abraço, o amor sem palavras, sem gestos, sem nada. O aconchego. Talvez apenas, uma forma de dizer: __Obrigado. Por mim e por você.
Acordamos no outro dia. Sem muitas palavras. Sem muitos toques, apenas, acordamos.
A Gabi me deixou um mistério. Apesar de me entregar em uma só noite toda a sua vida de bandeja. Não me entregou o coração. Deixou eu olhar de relance a clareza da sua alma. E depois partiu! Me abraçou, me deu um beijo no rosto e disse:
__ Até mais.
Tiramos uma, ou duas fotos juntos.
Nos falamos por uma ou duas vezes no máximo depois de tudo isso. Mas aquelas conversas cheias de dedo, cheias de formalidades e tal. Mas ela me disse de forma bem clara nos seus últimos parágrafos, deixando sua marca em mim.
__ Fox! Você se preocupa muito com as coisas. Tente ter uma vida mais leve. Viva o momento. Não se cobre tanto.
Nunca mais consegui falar com a Gabi. Não sei por onde anda, nem o que faz atualmente. Mas aqueles dias com ela. Me fez ter um pouco mais de esperança em mim. Nos outros. Na vida.
Saudades da Gabi!
Espero encontrá-la novamente.

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