quinta-feira, 5 de outubro de 2017

As Crônicas De Uma Velha Raposa - Permita-se

Praia de Icaraí, Niterói, RJ.

__ Oi!
__ NOSSA QUE SUSTO! (Risos)
__Desculpa. Desculpa! Calma. (Mais risos)
__ Você estava chorando? -  Perguntei.
__ Não, não. Só porque eu estava esfregando os olhos?
__ Sim! Achei que estava chorando.
__Não. Estava só contemplando a Lua.
__ Nossa! Esta linda mesmo.  - Repliquei -
__ Então ok. Está tudo bem mesmo? - Tornei a perguntar.
__ Sim. Esta! (Muitos risos, e dois rostos sem graça)
Bom. Foi assim. Eu estava caminhando após quatro voltas correndo na orla da praia. Até hoje não tenho ideia de quantos kilometros tem aquele lugar. O que sei, é que ali virou minha segunda casa. Meu santuário de adoração ao Criador de tudo que é visível, e invisível. A Praia de Icaraí últimamente tem sido o lugar que mais tem me proporcionado momentos encantadores. Além de ter se tornado meu Divã também!
Enfim. Iniciei essa conversa com uma mulher linda, debruçada a beira-mar, nas grades que separam o calçadão da Pedra do Índio. Realmente eu achei que ela estava chorando quando passei.
Mas. Como estava tudo bem. Segui meu caminho, até porque havia notado a estupidez que estava a Lua, e nós precisávamos de um tempo pra nós dois. Sim! Eu amo a Lua, e sim, eu também converso com ela.
Alguns quilômetros depois, sentei em um banco de madeira. Aquele banco tem sua história. Sempre sentei ali pra contemplar o pedacinho de horizonte que serve de saída da Baía de Guanabara. O banco fica exatamente em frente aquela "Porta Dos Sonhos".
Posso contar um segredo? Eu levei a minha primeira esposa à aquele lugar, pra sentar naquele banco! Nunca me esqueço disso. Eu tenho dessas coisas. Costumo levar pessoas importantes da minha vida a lugares que são importantes pra mim. Lugares peculiares que nunca fui com alguém. Mas isso é caso pra outra história.
__ Oi!
__ PUTA QUE PARIU! - Gritei - (Muitos risos, muitos, muitos, gargalhadas)
__ Tá vendo como é ruim chegar assim do nada?
Sim. Era ela. Ela me seguiu!
Perguntou se poderia sentar do meu lado. Eu disse que sim. Mas nós não parávamos de rir.
__ Tá fazendo o quê? - Me perguntou ainda engasgada com os risos.
__ Bom. Tô conversando com a Lua, e contemplando o horizonte.
__ Mas está escuro. Não tem como ver o horizonte! - Ela disse.
__ Mas ele está lá, nunca sairá de lá. - Disse eu com toda convicção das minhas quatro décadas.
__ Nossa! Quanta profundidade.
__ Minha? Ou do horizonte? - A Lua chegou ficar sem graça quando larguei essa.
__ Tá. Então vou deixar você aí a sós com a Lua e o horizonte. Só queria conversar mesmo. - Disse ela.
__ Não! Relaxa. Fica ai. Ela já estava de saída mesmo.
__ Quem?
__ A Lua.
Ela riu. E quando olhou pra cima, a haviam algumas nuvens passando em frente a mesma. Então, meio embasbacada. Ela olhou pra mim meio que sério e disse com tom preocupante:
__ Ah pára. O que é isso? Você é alguma espécie de sei lá... Mago, Bruxo, Vampiro? - (Eu ri bem Alto)
Então eu disse a aquela Sereia na minha frente que eu apenas era um bom observador. Ela acreditou!
Então, continuamos a conversar, sem nenhuma formalidade. Parecia que já nos conhecíamos faz tempo.
Depois de algumas horas. Ela perguntou o meu nome.
__ Posso te fazer uma exclamação antes de dizer quem eu sou? - (Vou ser sincero. Nesse momento deixei o espírito de Dom Juan falar mais alto)
__ Claro! - Ela disse. Se ajeitando no banco pra ficar de frente pra mim e olhando dentro dos meus olhos.
Rapaz! Me senti petrificado pela Medusa naquele momento. Mas, segui em frente. Afinal, a Velha Raposa aqui é Vietnamita!
Então, com dedo no gatilho, larguei o prego:
__ Porque faria diferença meu nome agora? Já estamos tão a vontade. Na verdade, já adentramos a atmosfera um do outro sem mesmo pedir licença ao horizonte. Já parou pra pensar quantas vezes como esta, tanto eu quanto você tivemos o horizonte a nossa frente e mesmo assim caímos na besteira de ignora-lo, e colocarmos os pés pelas mãos em várias outras circunstâncias? Deixa fluir! Sejamos agora apenas, Eu e Você. Você e Eu. Não importa o que daqui ainda há de existir.
Rapaz! Eu não sei de onde saiu isso que eu disse. E nem a proporção que o negócio chegou até o outro lado. Mas eu vi a íris da mulher mudar igual a da minha gata quanto está prestes a atacar. Bolei!
Mas. Segurei a onda. Estava ali de bem comigo mesmo. Sério! Só queria SER e ESTAR comigo mesmo. Então, rolou um silêncio insurdercedor.
__ Acho que agora seria a hora do beijo! - Ouvi uma voz sussurrar no meu ouvido. Mas como eu não sabia de onde estava vindo aquela voz tentadora. Continuei calado e imóvel.
__ Ouviu isso? - Ela disse dando que meio um pulinho no banco.
__ O QUÊ? O QUÊ? Disse eu todo serelepe achando que ela havia ouvido a mesma voz que eu.
__ A onda do mar cara! Eu amo o barulho da onda do mar.
E mais um silêncio reinou ali, de frente ao horizonte escuro.
Alguns minutos depois o telefone dela tocou. Quem era não sei. Mas ela acalmou a pessoa do outro lado deixando bem claro que ela estava bem. Muito bem por sinal!
Depois. Disse-me que iria pôr o telefone em modo avião porque não queria ser mais interrompida.
Após isso. Perguntei-a quanto tempo não conversava com alguém olhando olho no olho. Ela ficou sem graça, virou novamente de frente ao horizonte, e notei que ao mexer no cabelo, ela pôs algumas mechas de frente a um dos olhos, antes de voltar a estar de frente pra mim.
Pra quem sabe um pouco de linguagem de sinais, e psicologia sabe que esse gesto abriu um novo parenteses na nossa conversa.
E. Não havia mais horizonte a partir daí. Não havia Lua, Praia, Mar. Nada. Havia na minha frente um SER HUMANO.
Recebi com afeto todas as idiossincrasias de que aquela mulher pôde despejar naquele momento. Ela não estava contemplando a Lua, ela estava mesmo chorando naquele momento inicial. Confessou. E após confessar a mim seus dilemas. Perguntou-me:
__ E você? O que fazes aqui a sós? Não tem ninguém?
Respondi:
__ Olha. Se me perguntasse isso a alguns meses atrás. A resposta seria outra. Mas hoje não. Não estou só. Estou muito bem acompanhado. Estou com o melhor de mim. Com a melhor pessoa que eu pude estar nos últimos tempos. Eu mesmo! E isso é além de suficiente, é libertador.
__ Nossa. Você é estranho! - Disse ela.
__ Não. Eu sou normal. Estranho está as pessoas em achar que não au conhecendo nem mesmo elas mesmas são capazes de estar ou viver pra outras.
__ Tens razão. - Ela disse.
E foi assim que algumas horas depois terminamos rindo mais uma vez de como tudo começou e nos despedimos. E. Não me pergunte porquê, nem como consegui essa façanha. Não eu, nem ela nos preocupamos em pegar o telefone um do outro, nem de saber nossos respectivos nomes. Apenas deixamos aquela fantasia acontecer e saciar as nossas almas.
Foi bom.
Mas sabemos que esse encontro vai acontecer novamente. Aquela Praia é mágica. Ela nos mostrou isso.


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