sábado, 8 de junho de 2013

Sou hardcore, mas infelizmente, ele não me representa mais



Quero deixar claro que isso aqui é um desabafo e não regras ditadas.

Entrei nessa de hardcore por acreditar que era a melhor forma de mudar o mundo. Até então as pessoas faziam boas músicas, se envolviam com atividades visando melhor o nosso cotidiano e algo era construído. Era uma forma de lutar lado a lado com quem tinha os mesmos ideais.

Hoje tudo isso se perdeu. Nos tornamos exatamente iguais como aqueles que criticávamos. Somos velhos, chatos, acomodados e hipócritas. O hardcore de hoje é elitista e segmentado.

Nesse meio se tornou proibido ter opinião. Você é obrigado a concordar com os mesmos pensamentos, dizer que a banda é boa (mesmo ela sendo ruim, e hoje a maioria delas são) e ter que ouvir abobrinha de esquerda de alguém que nunca passou da página dois de qualquer livro marxista. Pensar fora da caixinha é proibido.

A diversão preferida dos hardcoreanos - quando não é comprar camisa de banda - é criticar os outros e se auto-afirmar como mais hardcore. O discurso é o que fulano da outra crew fez é ruim, pra fazer direito tem que aprender comigo. Mas o discurso nunca é transformado em ação.

Somos tão egoístas que não deixamos nossa turma se renovar. Nos shows são sempre os mesmos rostos, bandas, tudo sempre se repetindo. O sentimento hardcore surge depois de assistir um show bom, mas a porta do pico se fecha e a sensação de ser hardcore some antes mesmo de chegar em casa.

Muitos da galera que um dia ousou mudar o mundo agora só se preocupam em ficar bêbados, onde fumar sem ser explanado e como conseguir a próxima carreira de pó. A vontade lutar e a capacidade de sonhar sumiram, assim como o espírito de vocês.

Sou vendido, trabalho para a grande mídia, já fui funcionário das Organizações Globo e odeio ser contra a lei. Apesar de ser taxado de careta, ainda tenho o meu espírito jovem. A juventude de quem acredita que pode mudar com um passo de cada vez. Hoje em dia acredito muito mais que posso ajudar alguém com minhas matérias publicadas em jornais “que falam mentira” do que usando o hardcore para fazer qualquer coisa.

Não me rotulo mais hardcore e me sinto mais livre para agir. Não tenho mais regras para seguir. Apenas a vontade de sentir a minha juventude batendo no meu peito.

(*) Athos Moura tem 25 anos. 
Atualmente é jornalista do Jornal O Dia, já trabalhou com grandes mídias inclusive O Globo e Jornal Extra. Também já atuou em algumas bandas bem consideráveis da cena underground carioca como Ataque Periférico e Against.


Um comentário:

  1. MAIS ESSA E A REALIDADE CARA...NAO ADIANTA...AGENTE SER IPOCRITA EM UMA BANDA..COMO VC MSM DISSE..EU ACOMPANHO A CENA HEAVY METAL PRINCIPALMENTE NO RIO DE JANEIRO DESDE 1990..JA VI DE TUDO...E ATE HOJE EU A VEJO,...PESSOAS RADICAIS ,PESSOAS QUE NUNCA CAI NA REALIDADE QUE A MESMISSE ESTAR SEMPRE LADO A LADO...E PASSA O TEMPO E NUNCA A REPARAM, NAO SO NO HARDCORE MAIS SIM EM TODOS OS ESTILOS...DENTRO DO METAL E A SIM....MAIS FASER OQUE NE...RESPEITO MUITO A SUA OPINIAO...ESTAR MAIS DO QUE CERTO....

    ResponderExcluir