quinta-feira, 23 de maio de 2013

Entrevista com a BANDA VOX.

Por Gilson Fox 

A bola da vez agora no bate papo aqui é a banda VOX, da Grande Vitória (ES), que está na ativa desde 2005. 
Com proposta de compor músicas que expressem a influência musical dos integrantes, a banda vem unindo o hardcore a letras positivas e introspectivas. 
Confira a conversa que tive com os rapazes, em especial com Pecê, vocalista da banda e em particular um amigo de longas datas. 

1- Seguindo nosso bate papo, de cara; se não estou enganado já percebemos que a Banda VOX segue a linha PMA (Positive Mental Attitude) da cena hardcore/punk correto? Como se deu essa posição e quais são os envolvimentos anteriores dos membros da banda? 

Na verdade foi algo não intencional a princípio. Quando começamos a banda tínhamos em mente sempre falar de algo positivo em nossas letras, dai fazíamos letras relatando a importância da amizade, do respeito, e união. Claro, da unidade na diversidade e também coisas positivas a respeito da vida. Com isso deixamos de rotular a banda de Hardcore Old School quando em uma de nossas primeiras camisetas fizemos a logo com a frase "Positive Hardcore" . Dai em diante passamos a usar isso meio que definindo não mais a que escola do Hardcore pertencemos, mas a temática de nossas letras. Bem, a questão é que alguns anos depois conhecemos o PMA através dos trabalhos do Toby Morse e H2O, passamos a conhecer o movimento mais a fundo e vimos que na verdade tudo começou com o Bad Brains e por ai vai... Dai resolvemos unir o útil ao agradável, se já vínhamos falando desse tema mesmo sem conhecer o movimento, agora conhecendo ficou ainda melhor e achamos que era uma boa causa para nos engajarmos. 

2- Houve uma época que esse eixo RJ/ES/SP virou quase um "circulo vicioso" para as bandas brasileiras e gringas que vinham até o Brasil correto? E se não me engano, a década de noventa em específico. Lembro muito bem porque foi nessa época que me envolvi com o SxE e fiquei muito fascinado. Fale um pouco como foi nessa época a sua relação com a cena, as bandas anteriores ao VOX, e seu envolvimento com a OFC (Old Friends Crew). 

Essa época eu considero que foi a melhor, em especial o período de 1996 a 2000. Foi um tempo em que muitas boas bandas surgiram e eu fiz parte disso aqui no Espirito Santo , em 94 formamos uma banda com ideologia cristã e punk, por mais contraditório que isso soe ,o nome da banda era Judas 23 . Fomos a primeira banda de hardcore cristão do ES. Permaneci nessa banda até 1996, foram apenas dois anos, mas foram intensos. Em 1996 formamos a banda Full Effect, que infelizmente rolou por apenas quatro anos, em 1999 eu me dividia entre a banda Full Effect e outra chamada Atonement, que novamente me levou a unir o hardcore a uma postura cristã .Essa época meio que foi um divisor de águas para que a cena se solidificasse . Infelizmente com a mesma velocidade que a parada cresceu, também decaiu de uma hora para outra. Muitas pessoas ficam tentando achar um culpado para essa parada, tem esse discurso de que o “Movimento” Emo, (nem sei se isso deve ser chamado de movimento [rs] ) foi o culpado por esse declínio, outros dizem que foi o crescimento do movimento SxE , que passou a moralizar e a politizar demais, outros culpam o crescimento de bandas ligadas a algum seguimento religioso, que isso interferiu no esquema libertário do HC e por ai vai. Sempre essa coisa de encontrar culpados. Sinceramente eu não saberia dizer o que ocasionou esse enfraquecimento de algo que nos pareceu tão forte nos anos 90. O que vejo hoje é que as coisas parecem estar melhorando. As tours estão rolando novamente, vejo também que a parada está se profissionalizando. Os shows estão mais organizados e mais produzidos no sentido técnico, boas casas, sonorização, iluminação e etc. Na verdade isso é uma faca de dois gumes, porque por um lado ter shows mais organizados e estruturados, acaba forçando as bandas a também buscarem maior qualidade em ensaios, composições, gravações e investindo mais em crescimento musical, vejo isso com bons olhos, já passei da fase do anti-música , os punks que me perdoem (risos) . O outro lado da moeda é que o "Do It Your Self" pode perder o seu sentido, e isso tem um grande valor dentro do hardcore. Uma coisa que tem ocorrido é a volta dos coletivos para salvar esse espírito D.Y.I, pessoas que tem se engajado em resgatar essa ideia dentro do hardcore , mas o legal é que também os coletivos estão conscientes quanto a fazerem a parada com esmero e qualidade, saca? Aqui por exemplo, temos o Coletivo Versus que tem se estruturado e já fez alguns shows legais, com equipamento legal, embora seguindo esse espírito do D.Y.I. O que é feito é o seguinte, as pessoas envolvidas no coletivo investem grana e contribuem para a realização dos shows, é feito o orçamento do show incluindo despesas da banda que virá de fora, seja do estado ou em tour internacional, som, local e tudo o mais . Dai com todo o orçamento de custos em mãos, os membros do coletivo racham esse valor. Com isso dá pra fazer um ingresso barato e independente da bilheteria os custos serão cobertos. É legal isso. Embora ainda soe um tanto utópico é impossível! 

Em 2004 as coisas começaram a rolar novamente para o hardcore capixaba, o Thadeu Kaiser, Marcelão e Adriano Despair iniciaram a banda DZspero, o Litígio estava a todo o vapor com Ricardo Perrela e Tarciso a frente e também o Trino que já estava com uma pegada bem Metalcore . Outras bandas estavam iniciando como Verrina e outras. A cena começou a fervilhar novamente. Foi no ano de 2005 que iniciamos as atividades com o VOX e também surgiu a OFC (Old Friends Crew). A OFC seguia a ideia das Crews Novaiorquinas como a DMS. Era para unir amigos antigos e novos, fazer encontros de amizade e shows que promovessem essa união. Mas infelizmente a parada foi mal interpretada e com isso o coletivo Pacto de Sangue que também é da mesma época meio que começou a gerar tretas, acusando a OFC de segregar a cena. Começaram a se posicionar contra bandas que tivessem temática religiosa, dizendo que estavam transformando os shows em cultos e mais um monte de baboseiras do tipo. Infelizmente essa treta foi além dos limites, e houveram brigas, pessoas foram machucadas e gerou uma puta divisão na cena que enfraqueceu novamente . A banda DZspero acabou, a Litígio também encerrou as suas atividades, muitas bandas dessa época acabaram também e nós seguimos com a VOX, aos trancos e barrancos sobrevivemos. A partir de 2010 as coisas começaram a se fortalecer novamente. Uma produtora de shows se fortaleceu bastante aqui, a Correria Produções, e novamente os shows começaram a rolar com mais intensidade. Começamos a gravar o nosso CD nesse ano e as lutas foram tantas que apenas no segundo semestre de 2012 conseguimos finalizar e lançar. Enfim, foram muitos anos de trancos e barrancos realmente, mas vejo luz no fim do túnel, acho que a frase da banda Madball "Hardcore Still Lives" se aplica bem . Nós sobrevivemos! (rs) 

No ano passado (2012) o Litígio voltou as ativas, os caras agora preparam um novo disco, a parada tá ficando filé. Estamos engajados com eles e mais algumas bandas no Coletivo Versus. Esse coletivo prepara para esse ano uma coletânea que trará cinco bandas incluindo VOX e Litígio. 

3- Parece então que a sua pegada foi construída sob os alicerces de ter uma banda de relevância, e com temática cristã, correto? Por um bom tempo me enveredei por este caminho, mas o que parece é que, por falta de sabedoria, dos envolvidos, e ou, das pessoas por trás dos envolvidos, se “carrega um fardo evangelístico”, quando na verdade, ter uma banda de hardcore, especificamente, pode ser apenas considerado um manifesto de vida, uma indignação com o sistema vigente. E não como “pescar com dinamites”, Como você vê isso? Como você faz pra fazer com que as pessoas entendam o real motivo de vocês estarem neste movimento às vezes tão contraditório? 

Bem, não creio que tenha sido isso apenas. Eu curto punk rock desde os 15 anos, com as bandas Ramones, Sex Pistols e The Clash , daqui do Brasil eu curtia Plebe Rude e Legião Urbana, não tinha acesso a muitos materiais, dai a gente compartilhava fitas k7 das bandas que curtíamos e com uns amigos fizemos uma banda muita ruim, chamada CIA x KGB , todo mundo era ruim nessa banda e ninguém nem sequer tinha instrumentos legais para tocar. Nessa época eu morava no Rio de Janeiro, minha terra natal. Isso durou de 84 a 89. Em 89 eu me converti e me tornei cristão, porém essa minha conversão se deu exatamente num período em que o "Jesus Movement" estava se espalhando pelo Brasil com mais de uma década de atraso. O rock estava sacudindo as igrejas cristãs e causando um grande impacto em muitos jovens que estavam montando bandas a exaustão, para a maioria dos cristãos tradicionais, aquilo era uma afronta a Deus e uma porta do mundo que estava se abrindo dentro das igrejas, foi louco demais, e pude fazer parte disso. Bem, até então eu estava achando o máximo estar na igreja e poder curtir um rock, pois minha visão de igreja era outra. Em 93 me mudei para ES e em 94 quando conheci uns manos que também curtiam hardcore e punk rock, tivemos a idéia de montar a banda Judas 23, não tinha nenhuma banda punk cristã aqui no ES, depois fiquei sabendo que em São Paulo já tinha a banda Justa Advertência, a Ruptura e a Theosophy e mais algumas bandas pelo Brasil, mas nós de certa forma fomos também os pioneiros do hardcore cristão no Brasil. Acho que isso de certa forma faz com que a sua afirmação seja verdadeira, de que a minha pegada se consolidou através desse início com o Judas 23, mas eu diria que sem esse processo inicial , sem esse contato com o punk rock dos anos 80 , talvez eu soaria fake como tantas bandas de rock e hardcore cristão que vejo por ai . Não estou afirmando que para montar uma banda cristã tenha que ter tido experiência primeiro fora do cristianismo, mas penso que quem começou essa parada, os primeiros que deram a cara para bater, tiveram que ter essa estrada, não teria como ter credibilidade se não fosse o fato de ser verdadeiro e ter carga nas costas para fazer o que estávamos fazendo. Quando começamos aqui, não havia shows cristãos para tocar, a gente tocava com as bandas Mukeka di Rato , Gritos de Ódio , Dead Fish , etc. 

Agora falando sobre essa questão da falta de sabedoria dos envolvidos, penso que é como eu disse anteriormente , falta verdade , saca? Não creio nem que seja por esse "fardo evangelístico", mas por falta de honestidade, essa coisa de " nossa banda na verdade é uma estratégia para se ganhar almas”. Isso é desonesto com a cena e com quem curte hardcore . Vamos pensar nas bandas norte americanas que ganharam respeito na cena como : Strongarm , Overcome , Zao , The Crucified , Focused , N.I.V , P.O.D e etc. A mensagem cristã dos caras sempre foi marcante , não mascararam isso, mas por ter honestidade e verdade envolvido no que os caras faziam, isso deu moral aos caras dentro da cena. Não havia ali uns caras forçando uma barra, entende? Eram pessoas tocando hardcore pelo hardcore, porque gostam de hardcore , porém com letras expressando aquilo que acreditam. Eles estavam sendo honestos. É isso que penso, sem essa de hardcore como isca para ganhar pessoas pro cristianismo, a mensagem do evangelho não precisa disso e as pessoas não são idiotas, elas não gostam de se sentir assim, como se estivessem tentando fisgá-las. Agora se você vive a sua vida com verdade e honestidade, se o que você fala condiz com o que você vive , isso vai influenciar pessoas, e não no sentido de que necessariamente irão se converter, mas no sentido de que estarão respeitando o que você fala e vive. Sou pastor de uma comunidade cristã, isso não é novidade, muitos me conhecem por causa disso e muitos me conhecem por causa das bandas que fiz parte e hoje por causa da VOX, é interessante como que na maioria dos casos, as pessoas sabem separar as coisas, quem me acompanha na VOX, mesmo sabendo que sou pastor, respeita o meu trabalho em ambas as situações e não misturam as duas. Não me sinto obrigado a pregar todas as vezes que toco com a banda, sei que muitas gente faz faz isso, respeito, mas quando estou tocando hardcore é pelo hardcore, as vezes me sinto a vontade para falar algumas coisas acerca da minha fé, mas na maioria das vezes quero me divertir com algo que eu curto muito e sei que tenho liberdade para isso. 

4- Quanto a essa questão, “ter uma certa educação religiosa”, se assim posso dizer, na verdade eu acredito que não só no hardcore (leia-se no ramo da musica), quando se trata desde assunto, parece que ainda as pessoas andam um pouco desnorteadas. O que vivemos hoje por exemplo na política e nas mídias sociais, é quase que uma "guerra santa". Isso é vergonhoso. Agora tem uma coisa que me incomoda bastante. Algumas pessoas que foram muito envolvidas na cena, que praticamente construíram e fizeram parte da história do hardcore aqui no Brasil, depois que se envolveram com o cristianismo se afastaram. Claro, acredito que em alguns casos foi preciso, mas você não acha que pelo potencial e caráter dessas pessoas eles ainda teriam muito a dar a cena?

Isso é sem dúvidas um grande problema desse meio evangélico, essa coisa de achar que todas as coisas precisam se tornarem evangélicas, dai toda essa coisa do mercado gospel, políticos precisam governar dando prioridades para os evangélicos e por ai, e nesse contexto tudo o que soa como não evangélico é logo taxado de profano e coisa do demo. Cara, isso muito mais afasta do que une as pessoas, os evangélicos não aprendem a coexistir com quem segue outra crença e outra religião, não entendem que não estamos aqui para enfiar Jesus goela abaixo de ninguém, evangelizar não é isso, Jesus não fez isso. 

Sobre alguns manos que se afastaram do hardcore devido as suas conversões, penso que tiveram seus motivos, seja pelo lado de estarem numa denominação que os orienta dessa forma, outros porque sentiram que precisavam se dedicar com exclusividade a outras questões como família, trabalho, ministério e etc, ou ainda porque sentiram que seu tempo no hardcore acabou. Se alguns desses tinham ainda muito a somar no hardcore pelo potencial e caráter? Não tenho dúvidas disso, mas também vejo pelo lado de que a contribuição que deram jamais será esquecida, são pessoas que realmente contribuíram para o crescimento e história do hardcore . 

5- Agora voltando a falar propriamente sobre a banda. Vou me render a uma pergunta simples. Como se dá as composições de vocês e quais as bandas daqui do Brasil vocês indicariam para termos uma atenção especial?

As nossas composições ocorrem da maneira tradicional, Meson, Eric ou o Bill apresentam uma base a gente ouve essa base e decide se esttá legal ou não para darmos continuidade com arranjos e letra. Uma vez que tenha sido aprovada dentro da banda, gravamos de forma simples mesmo, com uma câmera de celular ou máquina mesmo. Dai compartilhamos a gravação entre nós, em casa, cada um faz a sua parte, eu geralmente tenho rascunhos de letras, dai de acordo com a base, decido qual desses rascunhos casaria bem com aquela base, às vezes não rola uma "química" com esses rascunhos e acabo escrevendo uma nova letra e a encaixo. Dai no ensaio todos encaixamos juntos os arranjos de instrumento e vocais, lapidando aqui e ali até que fique da forma como desejamos. Em alguns casos uma base que foi descartada anteriormente pode acabar sendo usada posteriormente. Esse é o processo que geralmente usamos. 

Sobre as bandas brasileiras que merece atenção em nossa opinião, bem tem rolado uma boa safra de novas bandas bem legais e algumas já consideradas antigas que com certeza indicamos. A banda Norte Cartel por exemplo, Nossa Fúria, Crença & Fúria, Prayer Pense, Bullet Bane, Bay Side Kings, Same Flann Choice, Inerte, Mais que palavras ... E tem outras , mas minha memória de 42 anos comete injustiças. (rs) Não se sintam ofendidos amigos de bandas que eu esqueci, vocês não são menos importantes! 

6- Legal! É mais ou menos o mesmo caminho de composição que a maioria das bandas fazem. Agora quanto a divulgação do trabalho de vocês. Hoje a internet facilitou bastante; você não precisa ficar correndo atrás de shows, datas, e pedindo pra tocar, basta um bom trabalho apresentado e as coisas surgem. Na verdade, com meu "espirito punk" (rs) ainda sinto falta dos Fanzines, o material gráfico distribuído em shows, bancas vendendo CDs, camisas, isso se vê muito pouco hoje em dia. Como vocês fizeram, ou fazem pra divulgar o trabalho da banda? Vocês levam em conta o número de "curtidas", "compartilhamentos e "plays" na internet ou realmente se preocupam com qualidade? Porque, desculpem a sinceridade, já está dando no saco essa divulgação exacerbada que o pessoal faz sem limite e sem qualidade. Onde na verdade o máximo que você consegue é um "Tamo Junto!". 

Toda banda quer tornar o seu trabalho conhecido, isso é natural e para isso é necessário um bom trabalho de divulgação. Nosso material foi lançado pela Vinte Sete Merch, e essa parte de divulgação tem sido feita pelo selo através do Hebert "Bertz" e do Meson (baixista da banda), eles cuidam de toda essa coisa de postagens e divulgação virtual. A Vinte Sete está produzindo também nosso material visual, e o nosso primeiro vídeo "Mais que uma luta" que foi lançado recentemente é uma produção da Vinte Sete e já estamos trabalhando para lançar o clipe de outra música de nosso album. Nossa divulgação tem sido feita dessa forma. É claro que esse lance das redes sociais meio que descartou aquele velho esquema de fazer zine, enviar flyers e etc. Voltamos aquela questão de que hoje em dia o D.I.Y tem se perdido cada vez mais. Mas as bancas estão voltando, muitas bandas estão resgatando essa coisa das bancas de material e tal, até porque isso facilita os rolés, já que a maioria dos produtores de shows não tem condição de pagar um cachê (palavra que causa um certo asco {rs}, mas é a que se encaixa nesse ramo musical ), dai as bandas devem ter seu material para complementar a parada e poder fazer um caixa para viagens , reposição e confecção de novo material e etc. Isso eu digo relacionado a camisetas, cds e adesivos das bandas, mas sobre material gráfico, infelizmente isso tem se perdido mesmo com a questão da internet. Eu também gostaria de voltar a encontrar zines impressos, revistas e textos sendo distribuídos nos shows. Sobre primar pela qualidade, isso sempre.
sobre o resto , é como eu disse , estamos trabalhando através de um selo, nesse caso, é claro, o número de curtidas, compartilhamentos, plays e visualizações é importante, porque é o retorno que o selo precisa para dar continuidade ao seu trabalho também. Outra questão é que seria falso da parte de qualquer banda dizer que não se importam com isso, como disse toda banda quer ter o seu trabalho reconhecido. Mas a outra questão que também envolve isso é que número de curtidas e etc, não representa necessariamente o reconhecimento de um trabalho de qualidade em se tratando de internet, porque se os integrantes da banda têm muitos amigos, eles pedem a exaustão para que esses amigos curtem tudo que postarem e isso dá visibilidade, mas não necessariamente representa algo que seja bom, e é nesse caso que concordo contigo que muita coisa ruim tem sido taxada de boa por ai , simplesmente porque tem uma legião de curtidores, seguidores e etc. Se for levar isso em conta terei que dar todo mérito para essas merdas que rolam por ai como "Lek, Lek" e "Poderosas". Eles são campeões de curtidas e visualizações! 

Agora sobre o “Tamo Junto”, quando realmente vem de amigos que você sabe quem são e que rola sinceridade na frase, tudo bem! Agora se é apenas para te dizer: "Aê curti tua parada lá, tá? Tamo Junto", dessa forma mecânica que rola na maioria das vezes, de fato é melhor que nem curta. 

7- Ouvindo o álbum de vocês "O Gosto da Conquista" notei que as letras são bem fáceis, eu em particular em meus trabalhos anteriores como banda sempre gostei de trabalhar desse forma, letra fácil e refrão do tipo "chiclete". Essa também é uma pegada sua ou foi opção da banda num todo? 

A gente segue essa ideia de letras fáceis para que todos entendam de forma simples o que temos a dizer e também para que a gente consiga atingir o nosso objetivo que é ir além da música, mas também passar algo para que as pessoas possam refletir. Essa pegada dos refrãos "grudentos" é algo da banda mesmo, desde que encontramos a nossa identidade musical essa se tornou uma das características principais . 

8- Quando você fala "passar algo além da musica" me faz lembrar muita coisa. Por exemplo, aquela velha ideia de se conseguir fazer alguns eventos mais diversificados com, além das bandas, palestras, vídeos, feira com materiais bem diversificados, comida, essas coisas. Por que isso se perdeu, e porque em tempos tão modernos isso ainda, 'é uma realidade distante'? Tentamos por um tempo fazer aqui no Rio e foi bem interessante.

Quando falo além da música é exatamente isso, é o que rola fora dos palcos, saca? Poder trocar ideia, fazer amizades, ouvir as pessoas que curtem o hardcore não apenas pela música, mas por ser uma plataforma de ideias, de opiniões diversificadas, de discussões que vão desde questões políticas a questões de postura pessoal, de fé, de amizade e tantas outras questões, até mesmo o lado da diversão. Agora sobre esse lance de eventos que unam shows a palestras e exposições, etc. Cara, não consigo encontrar essa resposta do porque isso se perdeu, é uma pergunta que não quer calar, mas que ao mesmo tempo parece que ninguém quer trazer a tona e os moleques se sentem meio que ofendidos quando falamos dessa parada do passado, entende? Todas as vezes que tocamos nesse assunto eles se revoltam, dizem que nos achamos donos da cena porque fizemos isso e aquilo no passado, que queremos criar uma hierarquia por tempo de "serviços" prestados ao hardcore. (rs). É até engraçado, mas já ouvi isso, acredita ? E dai fica essa lacuna aberta de algo que já foi tão legal e útil , mas que se perdeu. Eu não sei responder meu amigo, sinceramente não sei porque. 

9- É; ao mesmo tempo em que acredito que se batermos firme e cair pra dentro e fizer a coisa acontecer, tudo volte. Ao mesmo tempo tenho a mesma impressão que você, de não haver uma resposta definitiva. As gerações estão mudando muito rápido e deixando rastros as vezes não tão legais. Bom, mas nós precisávamos disso. Algo além do palco. Pra começarmos a finalizar nosso bate papo. Diz pra mim o seguinte: Na história dos movimentos alternativos, onde você acha que foi o ponto chave que podemos dizer assim: "Esse é nosso divisor de águas" e que de certa forma hoje tem uma marca crucial na vida de vocês. E em contrapartida qual foi "a bola fora" que infelizmente deixou um vácuo imenso? 

É também acredito que não devemos desanimar e continuar mostrando para os garotos que não queremos ditar regras, mas que temos algo positivo do passado para compartilhar e somar no presente e futuro. Essa parada do conflito de gerações é incrivelmente comprovada e tem se mostrado cada vez mais rápido, é realmente incrível isso. Sobre os rastros, é fato comprovado também, esse imediatismo dessa geração não tem dado muita margem para o pensamento, para os cálculos, vejo os garotos tomarem decisões e ações com duras consequências que poderiam ser evitadas. Um exemplo, sabemos que a tatuagem é algo que ainda encontra muita resistência em nossa cultura. Mas cara, vejo os garotos fecharem os braços e as vezes até o corpo todo de uma hora para outra, sendo que ainda estão estudando, e debaixo dos cuidados dos pais, são imediatistas demais em tudo que fazem. Sobre os movimentos alternativos em geral, acho que o que foi um divisor de águas foi esse lance de ter voz, de romper com sistemas de todos os tipos, que eram meio ditatoriais, que estabeleciam normas a serem seguidas, sendo que essas normas representavam muito mais "rédeas e cabrestos" do que algo realmente necessário. Na música, por exemplo, esse rompimento trouxe os selos independentes, os shows undergrounds e o estilo D.I.Y. Num âmbito geral, os movimentos alternativos trouxeram exatamente o que o próprio nome sugere, ou seja, alternativas, novas ideias e rompimento com os paradigmas estabelecidos. Isso marcou porque nos permitiu ter opinião, fazer a nossa leitura da coisa e não engolir tudo que queriam nos enfiar goela abaixo, trouxe a tona a capacidade criadora e mobilizadora de toda uma geração que vivia reprimida. A bola fora da parada? Esse é o “X” da questão (rs). Sei lá!, são tantas situações que podem ser citadas . Mas por exemplo, vamos pegar o movimento SxE, quando isso se fortaleceu, eu vi com bons olhos a parada, nunca me tornei participante direto nesse movimento, mas fui muito simpatizante e incentivador dos meus amigos que se engajaram, mas o que rolou depois é que a maioria dos SxE's meio que eram intolerantes, taxavam as pessoas de junkies, discriminavam e se posicionavam como donos da verdade, isso trouxe um certo sectarismo dentro da cena, com a postura Política e Vegan (Vegetarianismo) a coisa complicou um pouco mais, dai quem não era do movimento era alienado e por ai em diante. Com o lance das bandas religiosas, a falta de tolerância de ambos os lados, quem era ateu ou agnóstico não tolerava quem era religioso e vice-versa. Muitas guerrinhas dentro da cena, isso enfraqueceu demais cara. Nesse caso eu diria, não afirmo como verdade absoluta, mas diria que a intolerância e essa postura de donos da verdade de muitos dos envolvidos nos movimentos alternativos marcaram para que a parada não se solidificasse e se tornasse algo firme e definitivo na cena. 

10- A grande maioria das pessoas de nossa geração que tenho conversado realmente tem sido unanime quanto a essa questão do SxE. Mas como eu falei antes, acredito que seria mesmo inevitável chegarmos onde chegamos, com shows vazios e bem seguimentados. 
Bom. Foi um prazer trocar mais essa ideia e saber mais sobre a banda VOX e sobre você meu amigo de longas datas. 
Pra a gente terminar. Segue a última pergunta. 
Se talvez você tivesse que estar ativo em um outro estilo músical, em que você estaria trabalhando? 
Aproveita e deixa 3 boas resenhas pra gente desse outro estilo e uma explanação sobre o álbum de vocês. E boa sorte! 

Sim, muitos dos meus amigos e você se inclue nisso (rs) que militaram ou militam no SxE, sempre dizem o mesmo a cerca de como fariam diferente se tudo estivesse iniciando hoje e tal. Acho que ainda pode ser feito muita coisa, mas estamos velhos e os garotos nos acham chatos e nostálgicos demais. (rs) O lance é ganhar a confiança dos garotos, mostrar que ainda temos lenha pra queimar e que eles precisam dar uma chance para nós, os anciãos. (rs) Isso me lembrou uma afirmação do Jason Moody quando voltaram com o N.I.V , ele disse que "estavam voltando porque precisavam mostrar aos garotos como fazer hardcore sem perder o compromisso com aquilo em que se acredita", a parada é por ai! 

Tenho dois sonhos dentro de outros estilos, um deles seria uma banda na linha do Irish Punk , curto demais bandas como Dropkick Murphys, Fatfloot 56, The Runjack, The Real Mackenzies, Neck, etc. 

O Dropkick Murphys é a banda que me chamou a atenção para esse estilo a uns oito anos atrás com o filme Hooligans, eles estavam na trilha sonora e o Clipe de “I'm shipping up to Boston" se tornou um hit. Eu já conhecia a banda, mas me tornei fã a partir desse clipe, dai em diante pesquisei mais e conheci muitas outras bandas, mas o Dropkick Murphys é o carro chefe nessa parada. Tenho todos os discos dos caras baixados em meu computador, é uma excelente banda de Massachusetts - USA. 

Curto demais também o Flatfoot 56, é um banda cristã desse estilo também conhecido como Celtic Punk, os caras tem uma pegada muito massa, acho legal que fazem clipes com mensagens muito introspectivas como é o caso de "Courage". Recomendo uma conferida nesse clipe. 

O outro sonho em estilo diferente seria uma banda com pegada Rock'n'Roll na praia do Motorhead e AC/DC, mesclando com alguma coisa de hardcore tipo a banda Matanza . 

Bem, Motorhead e AC/DC dispensam qualquer resenha. (rs) Então vamos falar da banda Matanza, que também já é consagrado e dispensa resenha, mas é uma banda bem peculiar do tipo "amem ou odeiem", principalmente para quem ouve o som buscando letras positivas. Não é o tipo de banda que tenha grandes mensagens a serem passadas, mas musicalmente curto demais o som dos caras, essa mescla de rock'n'roll, country e hardcore me agrada muito. Curto a banda pelo som que fazem. O álbum "A arte do insulto" é meio que um clássico dos caras, mas na verdade todos são bons, porque o Matanza é aquele esquema do Motorhead e Ramones, ou seja, são poucas ou quase nenhuma mudança de um álbum para o outro, se você ouve um álbum, já ouviu todos. (rs) Mas o interessante é que sempre iremos ouvir como se fosse o primeiro. 

Sobre o nosso álbum "O gosto da conquista", é um lançamento que saiu com cinco anos de atraso desde que o idealizamos e compomos a maioria das músicas. É um registro que devíamos primeiro a nós mesmos e depois para os fãs da banda, sendo assim, é antes de tudo o pagamento de uma dívida. Esse álbum vem também encerrar um ciclo para que pudéssemos iniciar uma nova era pra banda. As dez músicas que estão nesse álbum foram compostas ao longo dos oito anos de nossa existência, onde escolhemos aquelas que melhor representavam todas as fases, ficaram oito músicas de fora, sendo que na verdade eram músicas que já estavam fora do nosso set de show a um tempo. O álbum foi gravado no estúdio Vinte Sete que é do selo que produziu e lançou o trabalho, Vinte Sete Merch. O lançamento foi uma parceria deste selo com mais dois outros, são eles, Correria Produções ( ES ) e Submersa Records (RJ). Então, é isso, quem tiver interessado em baixar o CD ou em algum outro material da banda acesse nosso. 

Obrigado Fox pela oportunidade! 
Que Deus o abençoe e sucesso ai com o retorno do Blog/Zine! 
Grande abraço à todos, a gente se esbarra nos rolés por ai. 
Valeu!  


BANDA VOX

PC Garcia - Voz 
Meson Oliveira - Baixo 
Eric Reis - Guitarra
Samuel 'Bill" Jr - Guitarra 
Vinicius Afonso - Bateria 

Contatos para show e material : 


sexta-feira, 10 de maio de 2013

Entrevista com a Banda Las Calles, Araruama - Rio de Janeiro.

 Bom, estou fazendo algumas parcerias com uns amigos, e surgiram algumas ideias bem legais. 
Vou estar abrindo este meu espaço aqui para divulgar alguns textos e trabalhos de outras pessoas que caminham comigo nesses tempos difíceis.
E pra começar, estou publicando a primeira entrevista que fiz para o site do Feira Moderna Zine com o Marcelo, vocalista da Banda Las Calles, aqui do Rio de Janeiro. A parceria com o Feira Moderna já é de caminhada, mas agora vamos tentar manter uma maior proximidade.
Espero que gostem!

Las Calles
Por Gilson Fox. 

1) Para começarmos nosso bate papo gostaria de saber o que há por trás da Banda Las Calles. Em minha opinião quando se forma uma banda se pensa primeiro no som que vai ser feito, as pessoas que podem formar esse grupo, e as ideias que o sustentarão. Foi assim com vocês? Vocês acreditam nesses três primeiros passos? Ou deixaram a coisa fluir? 

Foi exatamente assim que aconteceu conosco. É bem difícil não pensar que, se é para montar uma banda, que seja um tipo de som que eu gosto. Porém, é importante ter em mente que, dentro de um estilo musical, mesmo o hardcore, que pressupõe acordes simples, nada excessivamente técnico, seja possível colocar uma marca pessoal. Essa foi uma decisão tomada ao mesmo tempo em que definimos que seríamos uma banda de hardcore. Acho que tão importante quanto criar suas próprias músicas é dar a elas uma marca pessoal, algo seu. E o hardcore/punk sem dúvidas permite isso. Acho uma pena quando me deparo com uma banda que é uma cópia exata daquela banda de hardcore do momento, ou da moda. É um desperdício de criatividade, de tempo... E de vida! 
Quanto às pessoas, acho que fluiu com certa facilidade, num momento que mistura tédio e criatividade. Acho que essa combinação nos ajudou a criar músicas que para nós ficaram muito boas. 

2) Na verdade minha pergunta foi um pouco pretensiosa. Eu penso o mesmo quanto a criar uma banda. Deve-se sempre pensar em desde o nome, as pessoas, a proposta do som, letras e postura. Isso dá significado à banda. Qualquer banda que você coloca pra tocar em um play, pelas características dela você já a identifica. Quanto a letras, no caso do Las Calles, percebe-se em suas letras que o "sangue libertário" ainda corre em suas veias. Como isso se dá no dia a dia de vocês? Existe um envolvimento fora dos palcos? 

Antes de qualquer coisa, devo dizer que Hardcore para mim, sempre significou e sempre irá significar a ampliação e a afirmação de uma consciência crítica. É o que hoje guia minhas leituras, meus escritos, as bandas que ouço e etc.. O Hardcore vive no momento um refluxo crítico ao que me parece, com muitas bandas com um discurso bastante distante das origens Hardcore/Punk. Numa análise dialética isso até faz sentido, já que os anos 90 e começo dos 2000 foi um período em que o Hardcore era bastante engajado. 
Como sou eu quem escreve as letras, posso apenas falar por mim, porém é claro que, ao formar uma banda, você tenta reunir ao seu redor pessoas que de algum modo, compartilhem da sua visão de mundo. Com o Las Calles não é diferente, embora a gente discorde em vários aspectos. 
Quanto à política fora da banda, creio que cada um tente levar a vida da maneira mais ética possível, seja em seu ambiente de trabalho ou no trato com a família. No meu caso, por ser professor da rede pública, isso fica mais latente, e as oportunidades de semear a crítica são mais numerosas. E como fora dos palcos encontramos a vida real, acho impossível não estar engajado politicamente na transformação das coisas. A política vai muito além do envolvimento em grupos organizados. A política é o cotidiano, as relações sociais que criamos sem perceber, as trocas simbólicas e as relações econômicas que se criam no dia a dia. Esse é o local da intervenção. Não podemos separar a vida da política ou vice-versa. 

3) Quanto a visão critica, acredito que esse refluxo já era de se esperar, levando em conta que quando se fala de mudanças na cena a esperança é um "urubu pintado de verde", mas a gente nunca desiste. Agora, me diz uma coisa. Para nós que já apostamos em alguns projetos diferentes como fanzines, palestras, troca de cartas e inúmeras vezes horas perdidas em discussões bem interessantes em eventos com a galera, o que ainda uma banda pode oferecer a uma geração futura? Já que a geração passada, musicalmente, nos deixou um legado inesquecível.

Uma banda, quando tem como propósito (e esse pode mudar entre cada integrante da banda) fazer música dentro do que se considera o punk/hardcore, em minha opinião tem duas funções principais: 
1- Reafirmar para aquele que a faz as suas escolhas contraculturais (o inconformismo, a rebeldia, a crítica, etc.) 
2- Levar a outras pessoas a ética e a estética que são a espinha dorsal dessa contracultura. Creio que essa essência, pouco ou nada mudou nesses 25 anos em que estou envolvido com o punk/hardcore. Claro, como conversamos, parece que vivemos em um momento de refluxo das consciências críticas, embora isso não signifique de maneira alguma que a rebeldia tenha morrido ou perdido completamente o espaço. Ótimas bandas continuam se recusando a seguir e esse discurso alienado e alienante tão comum no hardcore atual. Sempre que eu tenho o prazer de descobrir uma banda que mantém as sua essência e a sua alma dentro da ideia de que o Hardcore é a trilha sonora de um conflito social, sinto que esses 25 anos não foram em vão. 

4) E quanto a cena? Nós sempre tivemos altos e baixos, épocas de boas bandas, bons shows, e o pessoal bem integrado. Mas tem épocas que tudo parece definhar. Um show aqui, outro ali, o pessoal das bandas some e derrepente alguém aparece fazendo alguma coisa e logo volta todo mundo. Existiria uma forma de manter o equilíbrio ou essa gangorra de certa forma acaba ajudando o cenário? Aproveitando a deixa; sempre existiu também os que defendem existir uma cena punk/hardcore, (mesmo que capenga) no Rio de Janeiro e os que vez por outra insistem em dizer que não. O que vocês acham? 

É interessante como dá pra sentir essas mudanças em espaços de tempo cada vez menores. Bandas acabam e outras surgem, pessoas se afastam, outras colam, outras retornam após um bom tempo longe. É a vida, nada mais. Acho que essa "gangorra" pode ser positiva, pois garante uma renovação, fato que é super saudável. 
Quanto a cena: para mim existe sim uma cena. Formada por pessoas que organizam os shows, que assistem aos shows, que escrevem em blogs e zines, que têm bandas, que fotografam e escrevem os shows e etc.. Uma cena para mim é essa comunidade, onde o ponto que mantém tudo junto é a opção por se expressar através da estética hardcore/punk. Pode não haver a união que gostaríamos, poderia haver menos egocentrismo e competição. Mas também poderia ser bem pior. Temos hoje, no estado do Rio de Janeiro, shows acontecendo todo fim de semana, diversas bandas com muito boa qualidade, blogs, grupos ligados a alguma atividade política surgindo e/ou se fortalecendo (libertação animal, anarquismo, ambientalismo, questão de gênero e etc.). Isso tudo me mostra que a cena hardcore no nosso estado vive um momento de retomada dos valores que sempre definiram o que é hardcore. 

5) E quanto a essa "estética hardcore/punk"? Durante um tempo, eu resolvi fazer uns estudos sobre o assunto. Se percebemos, quando se fala sobre a cena hardcore, melhor dizendo, sobre contracultura, não há algo concreto a se dizer se não traçar um histórico de acontecimentos. Certa vez encontrei uma monografia na internet de quase 15 ou 20 páginas bem interessantes sobre contracultura e percebi justamente isso, foram muitas datas, acontecimentos, relatos, resenhas de livros, cd's e filmes; mas nunca uma explicação plausível. Um exemplo hoje, é o que acontece também ao explicar sobre qual o som que uma determinada banda faz, como o próprio hardcore. Para defini-lo melhor, você tem quase que dar como exemplo algumas bandas que se aproxime do mesmo som que ela para que as pessoas possam entender. Se pegarmos algumas pessoas e perguntar, o que é hardcore, ou o que é punk. A maioria vai limitar-se em dizer que é um estilo de vida, ou uma liberdade de expressão. O que você diria? 

Parece que essa coisa de o que é punk ou hardcore é algo mais para ser sentido do que explicado. Embora claro, haja uma explicação "científica". Mas ela pouco importa. É como estar apaixonado, ou com raiva. Quem passa por isso não quer uma explicação racional, quer apenas resolver a situação, saciar a necessidade ou aproveitar o momento (celebrar). O hardcore é um pouco disso tudo: paixão, raiva, frustração e celebração, tudo misturado! Talvez por isso nunca me interessassei pelas bandas de hardcore que fazem letras românticas, pois fica faltando a raiva, que pra mim é um dos pilares do hardcore. Acho sim que o Punk/Hardcore é um estilo de vida, já que ele molda, em muitos casos a sua percepção crítica do mundo que o cerca, e permite (ou deveria permitir) ter acesso a mais informações que reforcem essa percepção crítica. Mas é bom deixar claro: estou aqui citando as bandas que têm um discurso crítico, pois são essas que me interessam e me encantam. E para minha sorte, ainda há ótimas bandas brasileiras e estrangeiras com essa característica. 

6) Suas colocações sobre assunto são interessantes. Traz outro prisma. 
Lendo algumas resenhas no seu blog, (Batalha após batalha) percebi algumas colocações interessantes, que vez por outra, encontro também nos documentários sobre a cena, seria sobre o lado positivo e negativo que algumas posturas podem trazer, por exemplo, vertentes mais agressivas como o BeatDown e mais filosóficas como o Straight Edge. O que podemos considerar de uma forma geral, pontos positivos e negativos e o que na sua posição pode ser mudado? 

Cara, eu não simplificaria tanto a questão a esse ponto: Beatdown=agressivo=negativo e Straight Edge=filosófico=positivo. Muito provavelmente há pessoas e bandas mergulhadas nessa vertente Beatdown que possuem uma consciência crítica que guia suas práticas cotidianas. Assim como nem todos os envolvidos no SxE estão nessa por uma escolha intelectual. Há muito de emocional (irracional?) nas nossas escolhas. E muitas vezes o pensamento sectário, que aparece com certa frequência no Straight Edge pode ser tão negativo quanto a postura Proto-Fascista tão comum ao Beatdown, já não une, e se não une, enfraquece. Não sei se tenho grandes expectativas em relação ao Hardcore. Talvez eu esteja me entregando a certo pessimismo em relação a cena. O Hardcore é apenas um microcosmo, um reflexo em menor escala do mundo real, com suas centenas de contradições. Sem dúvida eu adoraria ver uma cena Hardcore livre do Machismo, Homofobia e Especismo, mais crítica e verdadeiramente solidária. Mas estes são tempos duros para os sonhos. Apesar de tudo, tento acreditar no melhor. É como diz uma letra do Las Calles "O novo dia traz novas chances". 

7) Não foi minha ideia simplificar. Mas que olhando a grosso modo, e levando em conta que as próprias bandas fazem questão de transparecer essa visão negativa, isso é fato. Em uma conversa informal com um amigo ele citou, como muitos que deixaram a cena já o fez, toda o lado negativo que existe na cena Punk/Hardcore. Dizendo inclusive não ter esperança e por isso não pensa em se envolver mais. Assim fiz a seguinte colocação: Eu gosto, eu vivo, eu faço parte. Não gosto da posição de "idiota da objetividade" fazendo todas as críticas possíveis com medo de assumir uma posição. Agora voltando às perguntas em si, para que possamos começar a finalizar esse bate papo, me diga o que você vê pro futuro da banda. (?) 

Para o futuro só posso esperar alcançar o máximo de pessoas com nossa música, mantendo a integridade e o respeito próprio. Porém, mais do que esperar coisas boas para a banda, espero que a cena Hardcore do estado do Rio de Janeiro cresça em número e qualidade. O momento atual tem me mostrado boas bandas surgindo e fazendo um trabalho íntegro. Isso é animador. Que continue assim e se amplie o círculo virtuoso do Hardcore como uma ferramenta contracultural. E que os discursos proto-fascistas e sectários percam logo a vitalidade e morram. 

8)- Bom, como sempre fazem nas entrevistas por ae, eu iria sugerir nesse bate papo que fechássemos com uma mensagem pra galera. Mas acredito que já o fizemos. Então, nos deixe algumas boas indicações. Uma banda fora do circuito punk/hardcore com bons conceitos, um bom livro de cabeceira e um documentário indispensável. 

Acho que as únicas mensagens que cabem a mim deixar aqui, são justamente aquelas que me trouxeram ao Hardcore: Seja crítico. Vá além da aparência das coisas. Estude! Se informe! Seja ético. 
Quanto às dicas, posso recomendar: 
Livros: "Dias de guerra, noites de amor" - Crimethink 
"Por uma outra globalização" - Milton Santos 
"Admirável mundo novo" - Aldous Huxley 
Documentários/filmes: "Terráqueos", "Comida S/A", "1984" 
Jornais/revistas: "Le Monde Diplomatique Brasil" http://www.diplomatique.org.br/ 
Bandas: New Model Army http://www.newmodelarmy.org/ 

LAS CALLES - ARARUAMA - RIO DE JANEIRO - BRASIL


Para saber mais sobre a banda e contatos para shows, visite o Facebook dos caras, confira as fotos e ouça o som. Facebook Las calles: https://www.facebook.com/lascalles.hc







segunda-feira, 6 de maio de 2013

ABSINTO

Fada Verde (La Fée Verte)

A vida não é tão fácil quanto eu imaginava.
Os homens não são tão bons quanto parecem.
Existe uma linha muito tenue entre convicção e teimosia.
E eu não sei em qual caminho estou.

Me enganaram o bastante.
Sufocaram minha liberdade.

Hoje pela noite alguém me visitou.
Me acorrentou a esperança, me amordaçou ao próximo
Me pôs a sombra daquela cruz.
Eu nunca sei quando estou sonhando.

Me enganaram o bastante.
Sufocaram minha liberdade.
O doce se tornou amargo.


E o amargo agora se tornou...

Meu vício!