segunda-feira, 18 de agosto de 2025

A Raposa Teumessiana

Na mitologia grega, havia uma raposa que nunca poderia ser capturada.
Chamavam-na Raposa Teumessiana.
Foi enviada como maldição: símbolo daquilo que o homem jamais consegue dominar.

Contra ela, soltaram o Cão de Lélapo, o caçador infalível, que nunca deixava escapar sua presa.

Um paradoxo cruel:
O animal que não pode ser capturado.
O caçador que não pode falhar.
Zeus precisou intervir, petrificando os dois.
Porque certos impasses não têm solução, apenas destino.

Dentro da psique, essa raposa continua viva.
É o lado de nós que escapa sempre,
o trauma que resiste à cura,
o desejo que nunca se satisfaz,
a pergunta que não tem resposta.

Todo adulto carrega sua Raposa Teumessiana.
E a armadilha está em acreditar que ela pode ser capturada.
O verdadeiro salto de consciência não é caçá-la…
mas conviver com o eterno inatingível que nos habita.

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Entre a genialidade e a loucura, talvez haja bom senso.

A história humana é um cemitério de certezas e um berçário de ideias improváveis. Aquilo que, em um tempo, é considerado insanidade, em outro se torna o motor da civilização. Entre a fogueira das heresias e o altar dos heróis, há um território nebuloso onde transitam os que ousam ver além e que, não raramente, pagam o preço da incompreensão.

Nikola Tesla foi um desses exilados da compreensão imediata. Falava de transmitir energia sem fios quando a maior parte das cidades ainda se iluminava a gás. Morreu sozinho, cercado por anotações e projetos que soavam como devaneios. Hoje, é cultuado como um profeta da eletricidade.

Galileu Galilei ousou apontar seu telescópio para o céu e afirmar que não éramos o centro do universo. Por isso, ouviu a sentença da Igreja e experimentou o silêncio imposto aos que afrontam dogmas. Sua “loucura” científica, no entanto, abriu caminho para a era moderna.

Albert Einstein, com seus cabelos desalinhados e teorias que deformavam tempo e espaço, foi chamado de visionário, e de tolo. Mas quando os eclipses confirmaram suas equações, ele mudou para sempre a física e, com ela, a própria ideia de realidade.

Charles Darwin provocou não apenas debates acadêmicos, mas tempestades morais ao propor que viemos de uma longa cadeia de adaptações e não de um ato único e perfeito. O que para alguns era blasfêmia, para a ciência, era um salto.

Há ainda os que não inventaram máquinas, mas criaram paradigmas de outra ordem. Van Gogh, cuja obra hoje vale fortunas, morreu pobre e incompreendido, pintando o que via com os olhos e sentia com a alma. Ou Frida Kahlo, que transformou dor física em arte eterna.

Até mesmo os irmãos Wright foram vistos como sonhadores ridículos antes de fazer o ar obedecer. E, mais recentemente, Steve Jobs foi taxado de excêntrico obsessivo antes de redefinir a relação entre humanos e tecnologia.

O que todos têm em comum? Não é apenas genialidade nem pura loucura, é a capacidade de sustentar uma visão mesmo quando o mundo inteiro oferece riso ou desprezo em resposta. É uma teimosia lúcida, quase sempre confundida com delírio.

Talvez, entre a genialidade e a loucura, haja algo mais raro: bom senso. Não o bom senso da conformidade, mas o que nos lembra que todo avanço começa com uma pergunta inconveniente, uma ideia impraticável e alguém disposto a ser ridicularizado por acreditar nela.

Estamos enterrando dons, crucificando profetas e banalizando sábios na nossa própria história. Nos tornarmos descrentes e repetidores de jargões falsos, imitando uns aos outros como ecos vazios, seguindo tendências como cordeiros e, por fim, nos enforcando em praça pública com as próprias cordas que ajudamos a trançar. Não permita que suas ideias sejam afogadas num balde raso de julgamento. Transforme-as na sua mola propulsora, capaz de dividir o tempo em antes e depois de você. 

Levanta e anda!


terça-feira, 29 de julho de 2025

As vezes é necessário sentar a beira do abismo e contemplar a paisagem.

À Beira do Abismo
inspirado por Jack London, escrito com alma

Às vezes é preciso sentar à beira do abismo.
Não para pular.
Mas para lembrar que ele existe.
Que a queda é real.
E que a vida, por mais que te empurre, também te permite escolher onde firmar os pés.

*"Eu queria poder viajar. Atravessar as neves do Yukon, ver homens enlouquecerem de febre e fome, sentir a centelha que a cidade adormece, sentir o fogo ancestral." 

E é isso que o abismo revela.
Não o fim.
Mas o que ainda pulsa antes dele.

Sentar à beira é um ato de coragem.

É dizer: 

“Eu vejo o caos. Mas não fujo dele.”

É olhar o fundo escuro e não buscar explicação, mas presença.
É deixar que o vento bata no rosto e diga, sem palavras:

— Ainda há vida em ti.

Porque o abismo é só uma moldura.
A paisagem está em ti.
No que escolhes ver.
No que suportas sentir.
E no que decides carregar de volta quando te levantares.

Aqueles que nunca se aproximam da borda, não conhecem o peso das próprias asas.
Vivem seguros, mas rastejam.
Tu não.
Tu te sentas. Observas. Silencias.
E voltas com os olhos de quem já morreu por dentro, e mesmo assim resolveu viver.

Às vezes é necessário, sim, sentar à beira do abismo.
Não como fuga.
Mas como rito.
Porque há uma beleza brutal em contemplar o que poderia te destruir, e ainda assim escolher caminhar.

...

*Parágrafo baseado em leituras de Jack London.