domingo, 2 de julho de 2017

Hoje eu fiz amor com minha gata

Estávamos em um pub, aos goles, aos risos, aos berros, às mulheres. Eu, e mais dois amigos. Copiosamente, lembrávamos "dos tempos sombrios e sorditos da escravidão do egito. Das chibatadas do faraó, das murmurações das plebeias, e dos guisados de frango mau temperados por elas." (rs)
A gente gosta de transformar tudo em paixão, em poesia, sempre depois de alguns goles de absinto. (Gargalhadas)
A quase onipresença que o aplicativo de táxi nos dá, nos deixa a vontade com o horário de voltar pra casa. Então, somos como os 'Selvagens da Noite'. Independentes como os gatos negros que caminham pelo telhado nas madrugadas da vida com seus olhos de neon.
Enfim. Eram mais ou menos umas duas e pouca da madrugada. Cedo. Eu já estava em casa, e preparava uma vitamina concentrada com meus suplementos pra repor e compor as energias gastas naquela 'mesa de bordel'.
Resolvi não ouvi música. Queria curtir o silêncio, sentir, toca-lo. Estava fora do normal naquele dia. A favela nunca esteve tão quieta. Me encostei na lateral da porta, concentrei-me na luz da lua que transpassava os barracos e as goiabeiras, e abracei a noite.
Como um dejavu. Ouvi alguns cães latirem bem longe, dava pra distinguir o tom de individualidade daqueles dois animais que como eu, curtiam o momento.
Lembrei de minha infância. Na roça, no meio do mato. Dia e Noite! Era tudo muito lindo. Mágico.
Naquele momento, em fração de segundo, me passou quase os quarenta anos pela cabeça. E foi nesse momento em que a vi, ou melhor, a senti; chegando, e me tocando por trás. Como quem suplica por atenção. Virei-me. A peguei no colo e disse:

__ O que quer meu amor!?

Silenciosa. Fugindo dos meus braços, correu pela casa. Revesava os quartos como uma louca. Miava feito gente sussurrando palavras de amor e tesão profundo.
Eu disse:

__ Eu sei bebê. Eu sei! Você fica a sós em casa né? O dia inteiro. Agora você me quer. Hein?!

Ela passava entre as minhas pernas como uma mulher em seu estado pleno de insanidade sexual. E olhava pra mim com suas retinas grandes. Sedutoras!
Sentei na cama e peguei meu celular pra dar uma olhada nas mensagens. Ela veio, e deitou do meu lado com cara de 'pedinte', 'pidona', sei lá. Ela me queria!
Foi quando me toquei da importância que havia naquele momento. Larguei o meu celular. Deitei e a abracei. Enquanto eu fazia carinho na minha pequena. Ouvi quase que uma voz que ao mesmo tempo parecia sussurrar no meu ouvido, era bem audível, quase palpável. E dizia:

__ Tá entendendo agora o que é amor? O que é se dar e receber? Troca. Dedicação, lealdade, fé...? Você precisa se libertar de si mesmo. Você não vê as coisas como eu vejo! Não está pronto ainda. Fecha a sua boca, e abra os seus ouvidos. Seu coração...

Desabei. Chorei litros, rios, oceanos!
Vi a minha gata levantar, ir pra cama e deitar exatamente onde ela deita todas as noites, e olhar pra mim com quem diz:

__Deita. Descansa. Amanhã é outro dia.

Deitei.
E senti que um OUTRO alguém deitou-se ali comigo, abraçou-me e disse:

__ FILHO. EU TÔ AQUI. A MINHA GRAÇA TE BASTA. A MINHA GRAÇA TE BASTA!

Então. Dormi...
Apaguei nos braços do Pai.
Nos braços confiantes do Pai. Criador, consolador. Rei de todo o universo. Pronto pra acordar pela manhã. Ciente que Ele estará ali, sempre ao meu lado. Usando quem, e o que Ele achar necessário pra me dizer que está ali.

Obrigado Pai.
Obrigado a minha companheira, Sheetara. Minha gata, garota!

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