Eu
ouvi um grito estridente.
Estranho.
Eu
nunca havia ouvido algo daquele tipo.
Não
conseguia distinguir o lugar onde eu estava eu só ouvia um som que vinha de
outro cômodo da casa como se fosse algum animal se debatendo, preso as grades.
Quando
dobrei as esquina e entrei na porta a minha frente, ela estava lá.
Nua.
Crua.
Com
seus olhos negros fincados aos meus, e suas unhas de cor cinza, que seriam
capazes de arrancar o meu coração com um só golpe, ela virou-se e me olhou.
Eu
nunca vou esquecer aquele relampejar cintilantes de seus enormes olhos
alaranjados.
Hipnóticos.
Senti
um frio na barriga.
Um
susto. Era um sonho.
Acordei
deitado na grama seca do pasto, sentindo a brisa da noite, eu só queria um
descanso, mais nada, mais ninguém. Nenhum pensamento.
Quando
dei por mim já era tarde, só estávamos eu e as estrelas.
As
estrelas.
Talvez
eu esteja enganado quanto a isso tudo, pensei.
E
logo depois, senti o forte abraço do silêncio.
Meu
velho amigo.
Hoje,
essa noite eu não quero te ver, apenas essa noite. Eu não quero.
Eu
ouvi novamente a sua voz, se referiu a mim por duas vezes.
Pareciam
sussurrar ao meu ouvido.
Parei,
sorri. Respirei fundo e olhei pra trás.
Não
vejo ninguém. Não QUERO ver ninguém!
Caminhei
de volta por um caminho sombrio, minha mente estava vazia, era o que eu queria (?),
reduzi-me a um espaço vazio, sem preocupações do cotidiano.
E,
repentinamente eu ouvi novamente aquele estranho grito.
Não.
Dessa
vez ela estava caçando.
Enlouquecida,
rodopiava pelo céu negro acima de mim.
Céu
Negro e Gélido.
Era
como meus pensamentos entrecortando nuvens noturnas e espessas.
Dizem
que o seu guincho é para assustar as presas, arrancando-as de seus
esconderijos.
É
como uma voz do inferno que transforma os ratos em estátuas e enraíza os outros
pobres e pequenos mortais que caminham pela noite.
Acordei
novamente.
Dessa
vez a grama está úmida. Como as pálpebras dos meus olhos.
Uma
pena.
Umas
penas.
Plumagem
marmórea, vermiforme, lampejo de telas vivas, cascatas de marrons dosadas com
dourado e um cinza negro.
Será
que você ouve o meu silêncio?
Imagino
que não.
Eu
não quero que me ouça.
Ouça-me.
A
única lembrança que quero ter é seu rosto esculpido na moeda dos gregos.
Nada
mais.
Nada
a mais.
Nada.
Mas...
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