terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Carine Noctua


Eu ouvi um grito estridente.
Estranho.
Eu nunca havia ouvido algo daquele tipo.
Não conseguia distinguir o lugar onde eu estava eu só ouvia um som que vinha de outro cômodo da casa como se fosse algum animal se debatendo, preso as grades.
Quando dobrei as esquina e entrei na porta a minha frente, ela estava lá.
Nua.
Crua.
Com seus olhos negros fincados aos meus, e suas unhas de cor cinza, que seriam capazes de arrancar o meu coração com um só golpe, ela virou-se e me olhou.
Eu nunca vou esquecer aquele relampejar cintilantes de seus enormes olhos alaranjados.
Hipnóticos.
Senti um frio na barriga.
Um susto. Era um sonho.
Acordei deitado na grama seca do pasto, sentindo a brisa da noite, eu só queria um descanso, mais nada, mais ninguém. Nenhum pensamento.
Quando dei por mim já era tarde, só estávamos eu e as estrelas.
As estrelas.
Talvez eu esteja enganado quanto a isso tudo, pensei.
E logo depois, senti o forte abraço do silêncio.
Meu velho amigo.
Hoje, essa noite eu não quero te ver, apenas essa noite. Eu não quero.
Eu ouvi novamente a sua voz, se referiu a mim por duas vezes.
Pareciam sussurrar ao meu ouvido.
Parei, sorri. Respirei fundo e olhei pra trás.
Não vejo ninguém. Não QUERO ver ninguém!
Caminhei de volta por um caminho sombrio, minha mente estava vazia, era o que eu queria (?), reduzi-me a um espaço vazio, sem preocupações do cotidiano.
E, repentinamente eu ouvi novamente aquele estranho grito.
Não.
Dessa vez ela estava caçando.
Enlouquecida, rodopiava pelo céu negro acima de mim.
Céu Negro e Gélido.
Era como meus pensamentos entrecortando nuvens noturnas e espessas.
Dizem que o seu guincho é para assustar as presas, arrancando-as de seus esconderijos.
É como uma voz do inferno que transforma os ratos em estátuas e enraíza os outros pobres e pequenos mortais que caminham pela noite.
Acordei novamente.
Dessa vez a grama está úmida. Como as pálpebras dos meus olhos.
Uma pena.
Umas penas.
Plumagem marmórea, vermiforme, lampejo de telas vivas, cascatas de marrons dosadas com dourado e um cinza negro.
Será que você ouve o meu silêncio?
Imagino que não.
Eu não quero que me ouça.
Ouça-me.
A única lembrança que quero ter é seu rosto esculpido na moeda dos gregos.
Nada mais.
Nada a mais.
Nada.
Mas...

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