“por
Ele e para Ele são todas as coisas”
Caminhávamos juntos,
de mãos dadas, curtindo o ar fresco daquela manhã. Eu e minha ansiedade. Vez
por outra a delicadeza de suas mãos me deixava, e num surto, com seu cabelo ao
vento, ela corria por aquela areia molhada deixando suas pegadas a minha
frente, gritando bem alto:
__Vem, quero ver se você consegue me pegar!
Foi quando me
assustei com a aproximação das ondas.
Elas molharam os meus
pés de uma forma estranha, convidando-me a um mergulho e fazendo-me esquecer
tudo a minha volta, e depois de um bom tempo, fissurado ainda com as águas, além
de, eu e ela. Notei outra presença.
__Eu poderia te
mostrar uma coisa?
Disse àquela voz que
a tempo eu não ouvia.
__Acho que foi por
isso que viemos aqui não foi?
Respondi.
__Não procure um
culpado, tanto Eu como você sabemos que gosta de vir neste lugar, e é sobre
isso que precisamos conversar.
E então, Ele deixou
que eu sentisse o calor de Seu abraço e, só nós dois, caminhamos até o alto das
pedras onde as ondas chicoteavam a todo o momento.
__Sente-se, preste bem atenção no que Eu vou
lhe dizer. Olhe aquelas pessoas lá em baixo.
Olhei do lado
contrario ao que viemos. Percebi que todas eram com eu, iguaiszinhas a mim,
algumas sentadas e outras em pé caminhando de um lado para outro. E ao mesmo
tempo em que eu tentava entender aquela cena, um sentimento de culpa tomou
conta de mim. Então, notei que outra pessoa se aproximava de nós por detrás das
pedras, e apenas com um singelo sinal, Ele a deixou ciente que precisávamos
estar a sós. E aquele sentimento imediatamente me deixou. E comecei a ouvi-Lo.
__Todas elas filho, assim
como você, gostam de vir até aqui. Este lugar é peculiar, aqui Eu posso
ouvi-las melhor e todas elas vêm com o mesmo fardo que o seu. E às vezes assim
como você hoje, chegam aqui acompanhadas, e traz sua ansiedade, sua
inconstância, sua falta de personalidade, questionamentos, duvida e outros
sentimentos. Aqui se encontra uma geração inteira amigo; saiba disso!
Uma forte onda dessa
vez trombou as pedras fazendo com que alguns respingos chegassem a nós.
Sentei, pensei um
pouco e Ele continuou...
__Filho, Eu estou
aqui desde o início, acompanhando a mudança do tempo e das gerações. Vocês
estão mudando precocemente garoto. E não percebem! O que gostaria que soubesse
é que você é um filho nato desde século, enfermo pelas circunstâncias, inerte
no tocante aos seus irmãos. Isso precisa mudar meu amigo. Eu preciso que volte
aqui mais vezes, pra conversarmos, precisamos um do outro. Preciso que venha
até aqui troque seu fardo comigo e volte, diga pros outros tudo o que Eu tenho
lhe mostrado, neste lugar e na sua caminhada, e deixe-os vir até aqui também!
As lágrimas deram vez
ao nó na garganta e senti quando Ele levantou-se e me deixou sozinho.
Desci surpreso. Sem
palavras.
E caminhando ainda a
beira mar, deixei a brisa acariciar o meu rosto perpetuando aquele momento...
___Oi, você está bem?
O que houve? Desapareceu; fiquei preocupada!
Ela me disse.
__Chega! Por favor,
saia!
__O que houve...?
__Eu não preciso te
dar explicações, saia, me deixe em paz!
Corri
desesperadamente pela areia...
Um sorriso espontâneo
foi surgindo, e quando percebi, já estava com as águas pelas canelas.
__Eu preciso voltar!
Eu preciso voltar...
Escrito
ao som de Paul Clark – Songs From the
Savior (Vol. 01)
* “De Volta a Terra Dourada” é uma série de contos, onde eu mesclo
fatos reais com realidade. É um lugar fictício que criei durante um tempo
perturbador da minha vida, é onde minha mente sempre descansa. Durante esse
tempo tive muitas experiências e a maioria delas não foram muito boas. Eu quase
que diariamente escrevia esses contos e eram apesar de muito confusos, bem
bonitos, às vezes meio assustadores e às vezes apaixonantes. Já faz alguns anos
que não escrevo, e todos os que escrevi durante essa época se perderam.
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