Muita gente julga quem convive bem com a solitude.
Há quem diga, que quem vive sozinho, não quer se relacionar. Pelo contrário, a vontade de ter uma troca real, é gigante. Mas a sensação de muitas das vezes não ser compreendido, é absurda.
Dizem que você fala demais, que pensa demais, que "viaja na maionese"... Quando, na verdade, ninguém alcança, sua profundidade. Ou não está disposto a isso.
Por esses dias eu mesmo me diz uma pergunta:
Por que eu escrevo?
E a resposta, eu fiquei pensando por mais um tempo.
Talvez seja justamente por isso. Porque assim, sou capaz de mergulhar nas águas profundas do meu ser, me encontrar, ser quem eu realmente deveria ter sido durante minha vida inteira.
Por esses dias também eu fiz uma viagem pelo meu passado. E relembrei muitos momentos em que eu, mesmo estando cercado de gente, me sentia só. Ou, depois desses momentos em comunhão, voltava pra casa curtindo apenas o meu momento.
Não gosto quando romantizam a solidão nomeando-a como solitude, porque quem vive realmente a solitude, sabe o quanto lhe faz bem.
Ao contrário do que as pessoas pensam, escolher estar sozinho não tem nada de negativo. É um modo de vida, é um aprendizado, é libertação e um encontro com sua própria execencia e espiritualidade.
As vezes por conveniência, você escolhe estar com alguém e curtir aquele universo, que não é o seu, e acaba se desvairindo. Murchando sua alma. E quando a alma murcha, não é porque o outro te feriu, mas porque você mesmo traiu sua essência ao tentar caber em moldes alheios. Essa é a ferida secreta da maioria: viver no ritmo dos outros até perder o compasso do próprio coração.
A solitude, diferente da solidão, não é vazio, é plenitude. É quando você se senta diante do espelho da alma e finalmente encara os monstros que fugiu a vida inteira. Freud chamaria isso de encarar o inconsciente, Jung falaria do encontro com a Sombra, e na linguagem da espiritualidade é atravessar o deserto da alma. Não importa o nome: o processo é o mesmo, descer até o porão da própria existência para resgatar o que foi enterrado.
E nesse mergulho, você percebe que estar só é um exercício de coragem. Porque o silêncio te confronta, te despe, te mostra o que você realmente é, sem aplausos, sem máscaras. É um lugar onde ou você aprende a dialogar com Deus dentro de si, ou enlouquece com o eco da própria mente.
A sociedade teme quem está em paz com a solitude porque esse ser humano é indomável. Não precisa da validação de ninguém, não se vende por migalhas de afeto, não mendiga presença. Ele ama quando quer amar, e se retira quando precisa preservar sua chama. E isso incomoda, porque revela a escravidão afetiva da maioria.
Solitude é alquimia. É a forja onde a dor se transforma em sabedoria, onde o vazio se revela como espaço fértil, onde a ausência do outro abre espaço para a presença do Eu verdadeiro. É ali que nasce a criatividade, a espiritualidade encarnada, a visão filosófica. É ali que a palavra escrita não é só texto, mas ritual de cura.
E então você entende: escrever, pensar, falar demais não é defeito. É chamado. É pulsar da alma que recusa se acomodar na superfície. É oração sem templo, psicoterapia sem divã, filosofia viva que respira no cotidiano.
Quem ousa entrar nesse território descobre um segredo que poucos suportam: a solitude não é um fardo, é liberdade. É o sopro que nos reconecta com aquilo que sempre fomos antes do ruído do mundo.
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